Título: Oferta de moeda a turista na Copa ainda preocupa BC
Autor: Travaglini, Fernando ; Veloso, Tarso
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2011, Finanças, p. C8
De Brasília O Banco Central ainda não conseguiu encontrar uma solução para garantir a oferta de reais durante a Copa do Mundo de 2014. A principal aposta do BC para suprir os turistas de moeda local, os correspondentes cambiais, não atraiu a atenção dos grandes bancos. Apenas uma instituição, de médio porte, usa seus correspondentes para realizar essas operações. Os grandes bancos têm restrições até mesmo a operações com seus próprios clientes, segundo avaliação de fontes do BC ouvidas pelo Valor. Hoje existem 807 correspondentes, mas apenas três são ligados a bancos (uma única instituição financeira). A maioria é vinculada a corretoras de câmbio.
Ainda não há um diagnóstico do problema, mas os técnicos do BC acreditam que as instituições financeiras estão receosas com a questão da segurança. Além disso, os custos envolvidos são muito altos, o que reduz a atratividade do negócio com pequenos valores.
No limite, caso os bancos não mostrem interesse por esse mercado, o BC avalia que teria que abrir a operação para instituições não financeiras, a exemplo do que já ocorre em muitos países desenvolvidos.
No Brasil, apenas as instituições financeiras podem operar câmbio (são 170 instituições autorizadas a operar). No exterior, existe a figura da casa de câmbio, mas o BC teme que não haja viabilidade econômica para esse modelo no Brasil.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, chegou a comentar um desejo de que, no futuro, a moeda brasileira seja usada nas transações externas. Ele ressaltou ainda que a disseminação do real no exterior possibilitaria que os agentes pudessem adquirir moeda brasileira diretamente em seus paises de origem. "Isso é algo a ser consolidado no futuro e certamente facilitará a vida dos turistas que venham ao Brasil."
Geraldo Magela Siqueira, chefe da gerência-executiva de Câmbio e Capitais Estrangeiros do BC, disse que esse é de fato um interesse do BC. "Vamos manter uma conversa maior com os bancos, para dar visibilidade maior nesse processo. Nesse caso, o turista já viria com reais no bolso. Mas os valores que temos hoje no exterior ainda são irrisórios", disse Siqueira.
Tombini ressaltou, no entanto, que os avanços devem ser feitos com cautela, "preservando aspectos relativos à prevenção e o combate à pratica de lavagem de dinheiro", afirmou durante o discurso de abertura do seminário Câmbio Manual e Transferências de Pequenos Valores, organizado pelo BC, ontem, em Brasília.
A rentabilidade do mercado de troca de moedas depende do número de turistas. Mesmo com o crescimento nos últimos cinco anos, o país ainda não atrai muitos visitantes. Em 2003 o país registrou a entrada de US$ 2,5 bilhões, com a vinda de 3,8 milhões de turistas estrangeiros. No ano passado, o número pulou para US$ 5,9 bilhões, gastos por 5,2 milhões de turistas.
"Ficamos três anos estacionados em 5 milhões de turistas. Tivemos um hiato sério no crescimento do turismo internacional brasileiro em função de problemas da Varig, que tiraram 1,6 milhões de assentos em voos internacionais", disse o diretor do departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, José Francisco Lopes.
Segundo dados do Ministério, são esperados 600 mil turistas durante a Copa do Mundo, com gastos acima de R$ 11 mil por pessoa.