Título: Recuperação exige recursos e tecnologia
Autor: Torres , Carmen Lígia
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2011, Especial Rodovias, p. F1

Para o Valor, de São Paulo Em todos os mapeamentos realizados com a finalidade de determinar a necessidade de recursos para nortear decisões sobre a infraestrutura rodoviária, os serviços de manutenção, recuperação e adequação são apontados como os pontos críticos. Eles demandam mais investimentos e tecnologia, tanto do poder público como das empresas privadas, responsáveis pelas operações das estradas. No estudo "Rodovias brasileiras: gargalos, investimentos, concessões e preocupações com o futuro" do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), quase 80% dos R$ 183,5 bilhões considerados necessários para melhorar as condições da malha viária são para esses pontos.

Embora o governo não tenha contingenciado os recursos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), sinalizando a prioridade desses serviços, os investimentos previstos são muito inferiores aos considerados necessários pelo Ipea. Segundo o setor de Infraestrutura Terrestre do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), estão garantidos R$ 21 bilhões até 2014 para conservar e adequar os 56 mil quilômetros das rodovias federais. Além dessa providência, o Dnit garante que os governos estaduais também estão investindo na melhoria da malha rodoviária dos Estados.

"Investimos muito em tecnologia e pesquisa de novos materiais para a preservação das vias", afirma Décio Resende, diretor de obras da CCR Engelog, grupo de concessionárias que tem sob sua responsabilidade a Rodovia Bandeirantes, eleita como a melhor do Brasil. Resende diz que o grupo está investindo R$ 180 milhões em um programa de revitalização da Bandeirantes, para melhorar ainda mais o desempenho, conforto e segurança da estrada, e, por consequência, continuar garantindo o primeiro lugar na preferência dos usuários.

Resende explica que reformar uma via é mais trabalhoso do que construir. "De nada adianta uma operação tapa-buracos, na qual se assenta um pavimento superficial, sem analisar a estrutura da rodovia", explica. Quando há problemas na estrutura, o pavimento não resiste, e em um curto espaço de tempo, que pode ser de apenas seis meses, os buracos se abrem novamente.

Para a CCR, que opera e mantém 2.400 quilômetros de estradas sob concessão estadual e federal, o uso de tecnologias e matérias-primas que deem longevidade às rodovias e proporcionem conforto e segurança aos motoristas é uma questão de rentabilidade. "Mantemos convênios com universidades brasileiras e promovemos intercâmbios com as estrangeiras para aperfeiçoar os serviços sob nossa responsabilidade", diz.

Segundo Resende, o centro de pesquisas da CCR conta, hoje, com o "estado da arte" em equipamentos de análise e simulação de aplicabilidade para a preservação da rede viária sob responsabilidade da concessionária. "Com essa tecnologia, é possível obter um dimensionamento mais preciso dos materiais a serem utilizados nas vias, segundo os dados reais de uso", diz.

Há cerca de quatro anos, a estrutura interna do Dnit passou por um período de readaptação e uma das estratégias centrais foi a implementação do programa de manutenção das estradas federais sob o modelo de contratação de serviço diferenciado, chamado Contrato de Reabilitação e Manutenção de Rodovias (Crema), modelo de prestação de serviços criado em 2001. Trata-se de um tipo de contratação que, por especificações legais, exigem maior compromisso das empresas contratadas.

O programa de recuperação, envolvendo aproximadamente 30 mil quilômetros de estradas em todo o Brasil, foi dividido em duas etapas. Na primeira, com as obras totalmente licitadas e em fase avançada de desenvolvimento, a preocupação maior foi com a trafegabilidade das vias, incluindo a restauração da capa asfáltica dos pavimentos.

A ideia central é que, durante a realização dessa primeira etapa das obras, previstas para serem concluídas em um período de dois anos, o Dnit pudesse fazer os levantamentos e estudos necessários para a elaboração de projetos definitivos para a recuperação da estrutura das rodovias federais.

Com esses projetos em mãos, seria detonada a segunda etapa do programa, prevista para ser iniciada nesse primeiro semestre e que deverá se estender por cinco anos. Para essa fase, estão previstas obras de recuperação em 32 mil quilômetros, dos quais grande parte foram alvo de reparos na primeira etapa. A diferença é que, agora, os trabalhos de recuperação atingirão as estruturas das estradas.

Nessa etapa também serão investigados os fatores que causam a deterioração das rodovias, para adotar medidas capazes de evitá-los ou minimizá-los na hora da restauração. Também serão realizadas melhorias operacionais em até 10% da extensão programada. Nos trechos mais críticos de geometria das vias, como em aclives acentuados, poderá haver extensão da terceira faixa, por exemplo. O Crema segunda etapa prevê ainda obras em intersecção de estradas como trevos e trechos de travessias urbanas.

Segundo o Dnit, 1,3 mil quilômetros de obras da segunda etapa do programa está em fase final de contratação. A programação está fechada para cerca de 30 mil quilômetros. Paralelamente, novos lotes estão sendo definidos, a exemplo de outros 4,8 mil quilômetros que terão os projetos de engenharia licitados nos próximos meses.