Título: Brasileiras vão à compra de rivais
Autor: Braga, Gustavo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 19/08/2010, Economia, p. 17

Fusões e aquisições crescem 43,2% no primeiro semestre e atingem R$ 84,8 bilhões

No momento em que todas as atenções estão voltadas para a união de forças entre a brasileira TAM e a chilena LAN, com criação da maior companhia aérea da América Latina, o mercado de fusões e aquisições entrou de vez no radar dos investidores. Dados divulgados ontem pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, só no primeiro semestre, essas operações movimentaram R$ 84,8 bilhões, quantia referente a 59 negócios. O valor representa 71,3% de todas as operações de 2009, além de um crescimento de 43,2% em relação a igual período do ano passado. O destaque foi o aumento de aquisições de empresas estrangeiras por brasileiras.

De janeiro a junho, foram feitas 18 operações dessa natureza, com volume correspondente a R$ 39,5 bilhões e percentual de participação de 46,6% sobre o total das operações de fusões e aquisições realizadas no semestre. A maior operação anunciada (R$ 11,6 bilhões) entre janeiro e junho envolveu a participação da brasileira Cosan nas atividades da Shell. Na terceira posição (R$ 7 bilhões), vem a aquisição da Bunge pela Vale. No caminho inverso, a principal participação estrangeira em empresas nacionais foi a venda dos ativos de alumínio da Vale para a norueguesa Norsk Hydro, por R$ 8,5 bilhões.

Na avaliação de Cesar Amendolara, sócio do Velloza,Girotto e Lindenbojm Advogados Associados, escritório especializado em operações de fusão e aquisição, a tendência é que esse tipo de operação continue em expansão no segundo semestre. Segundo ele, a economia brasileira vive o contexto de crescimento da atividade, o que torna natural a busca por oportunidades fora do país. Setores como o de commodities e o de alimentos, por exemplo, enxergam a operação no exterior como recurso para manter a rentabilidade e diluir o risco em situação de eventuais safras ruins no Brasil

Capitalização Para Bruno Amaral, coordenador do subcomitê de fusões e aquisições da Anbima, a iniciativa dos grandes negócios(1) partiu do Brasil. Foi o movimento de empresas do país que levou as fusões e aquisições a baterem recorde no primeiro semestre, destacou. Amendolara destaca, entretanto, que é preciso cautela ao considerar a comparação com 2009. Ao longo dos últimos quatro anos, observou-se forte movimento de abertura de capital nas empresas. Em 2009, em virtude dos efeitos da crise, o ritmo caiu, e voltou a crescer em 2010.

No primeiro semestre, 18,9%, ou R$ 2,1 bilhões dos recursos captados pelas empresas com emissões de ações no mercado de capitais brasileiro foram destinados à aquisição de participações acionárias. No mesmo período do ano passado, esse percentual era de 9,6%.O banco de investimento JP Morgan é o líder do ranking de intermediação de fusões e aquisições, responsável por coordenar operações de R$ 25,4 bilhões. O brasileiro melhor colocado é o BTG Pactual, na quarta posição.

1 - Extra Eletro muda nome O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) autorizou o Extra Eletro a abandonar a bandeira da rede em 45 lojas, nas quais passará a usar as marcas Ponto Frio ou Casas Bahia. O negócio entre as empresas fez parte de uma operação maior, envolvendo o grupo Pão de Açúcar, que passou por idas e vindas desde dezembro de 2009, correu riscos de fazer água e voltou a ser negociada em meados deste ano.

Itaú ganha o aval do Cade

Um ano e nove meses depois da fusão entre o Itaú e o Unibanco, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou ontem a transação, por unanimidade, sem restrições. Em seu voto, o relator Fernando Furlan argumentou que, mesmo nos setores em que o novo banco formado pela união dos dois negócios passou a ter mais de 20% do mercado como o de financiamento de veículos, previdência privada e cartões de crédito , a concorrência está assegurada. A rivalidade é garantida por outros agentes com participação também relevante, afirmou.

O relator do caso, conselheiro Fernando Furlan, recomendou a aprovação da fusão com base nos pareceres da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda, da Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça e do Banco Central. No entendimento do órgão, a fusão não representa ameaça à livre concorrência no setor.

Liderança Anunciada em novembro de 2008, a união entre Itaú e Unibanco criou, na época, o maior banco por ativos do país. Mas, em seguida, a liderança foi retomada pelo Banco do Brasil com a compra do banco estatal paulista Nossa Caixa e de metade do Banco Votorantim. Furlan disse ainda que a participação do Itaú e do Unibanco caiu nos últimos cinco anos nos setores de veículos, previdência privada e cartões. A fusão já havia sido aprovada em fevereiro de 2009 pelo Banco Central.

Pantanal reforça rotas da TAM O controle da companhia aérea Pantanal agora é da TAM em caráter definitivo. Ontem, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, por unanimidade e sem restrições, a compra das ações totais da Pantanal Linhas Aéreas pela nova gigante da América Latina agora que uniu forças com a chilena LAN. O negócio foi formalizado em dezembro do ano passado e determina que a TAM passará a controlar a Pantanal e poderá operar nos trechos operados pela empresa. Ricardo Ruiz, relator do caso, salientou que essa não é uma aquisição convencional, já que a Pantanal é uma empresa que estava em recuperação judicial, mas não em processo de falência, e a aquisição pela TAM se deu por meio de um leilão que contou apenas com essa companhia participante.