Título: Cresce a disputa por cargos entre PT e PMDB
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2011, Política, p. A10

De Brasília

A oferta de cargos feita pelo governo federal a parlamentares abriu uma nova disputa entre PT e PMDB e reforçou a divisão interna da bancada petista. Insatisfeitos com o espaço ocupado em cargos comissionados, pemedebistas reforçaram a pressão contra a presidente Dilma Rousseff e contra petistas. Diante do impasse, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, reuniu-se ontem com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para tentar apaziguar a situação.A indicação de um nome ligado ao PT para uma diretoria do Incra acirrou os ânimos de lideranças pemedebistas, que acusaram petistas de "traição". O PMDB do Senado acertou com petistas a nomeação de um pemedebista para a Diretoria de Obtenção de Terras do Incra, mas outra ala do PT, mais resistente ao PMDB, atropelou a negociação e articulou com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a nomeação de Marcelo Afonso Silva. O caso, além de reforçar a disputa entre PT e PMDB, realçou a disputa da bancada petista no Congresso em busca de espaço no governo.

A insatisfação do PMDB foi levada pelo líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), ao líder do PT na Casa, Humberto Costa (PE). O caso também foi relatado por Romero Jucá a Ideli na noite de ontem. Está prevista também uma conversa de pemedebistas com a ministra da Casa Civil.

Pemedebistas reclamam que "70% dos cargos comissionados estão nas mãos do PT" desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Líderes do partido defendem uma redistribuição dos cargos a partidos da base aliada ao governo. Segundo dirigentes da legenda, o problema não é o titular da pasta de Relações Institucionais, mas o PT. "Não importa se o ministro é [Antonio] Palocci, Luiz Sérgio, Ideli [Salvatti] ou Jesus Cristo. Alguém tem que ter coragem de tirar esses caras [petistas] de lá", disse um dirigente do PMDB, que pediu para não ser identificado. "Somos também responsáveis pela vitória de Dilma. Ganhamos a eleição para fazer o quê? Para trabalhar com adversários? O governo é nosso", completou o pemedebista.

O partido quer que o governo agilize a nomeação do ex-governador José Maranhão para a vice-presidência institucional do Banco do Brasil. O PMDB da Câmara considera essa indicação como prioridade.

O PT reclama da pressão do PMDB e diz que o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), tem se comportado como "presidente do sindicato dos parlamentares". Petistas acusam o partido do vice-presidente da República de tentar isolá-los no Congresso Nacional e de querer tomar o espaço do PT no governo federal. A divisão da bancada, no entanto, é minimizada por lideranças do partido.

Além da briga por cargos comissionados, as emendas parlamentares abriram outra frente de reclamações do PMDB contra o governo petista. Na reunião de terça-feira de líderes da base aliada com Ideli Salvatti, o líder do PMDB ironizou a ministra e foi aplaudido. Repetindo o discurso da ministra, de que iria "ouvir e negociar muito", Henrique Alves disse que Ideli tinha de adotar mais um verbo: "resolver". Pemedebistas dizem que darão "entre 15 e 30 dias" para o governo sinalizar com a liberação de emendas e agilizar a nomeação de cargos.

A ministra das Relações Institucionais, no entanto, colocou em xeque a liberação dos recursos das emendas pelo governo federal. "O desejo é sempre muito maior do que a possibilidade concreta", disse Ideli ontem, depois de visitar o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS). "Mas vamos olhar com muita atenção os pleitos que as bancadas estão apresentando", disse.

Líderes da base aliada pediram ao governo o empenho de pelo menos metade das emendas previstas no Orçamento deste ano e a prorrogação, até o fim do ano, do prazo para o pagamento dos restos a pagar.

Segundo Ideli, os pedidos dos parlamentares serão atendidos "dentro das possibilidades" do governo federal. "Este é o ano em que todos devemos estar responsáveis com o equilíbrio fiscal, com o controle da inflação e com a distribuição da renda", disse.

Em busca de maior interlocução com o Congresso, a ministra afirmou que estreitará os laços do governo com deputados e senadores. Ideli afirmou que participará de reuniões semanais com parlamentares e que sua relação com a Câmara dos Deputados será "quase cotidiana". Segundo a petista, a presidente Dilma Rousseff manifestou o desejo de se aproximar dos deputados e deve se reunir em breve com as bancadas da Câmara assim como tem feito com os senadores.