Título: Credores da Grécia entram na berlinda
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2011, Finanças, p. C1

UE: Ameaça de rebaixamento de bancos detentores de títulos da dívida grega amplia medo de contágio

Financial Times

A exposição dos bancos europeus à Grécia voltou a irritar os investidores, depois que a Moody"s disse que poderá rebaixar as classificações de crédito dos três maiores bancos da França por causa de suas grandes posições em títulos da dívida grega.

Aumenta a pressão para que os líderes da zona do euro cheguem a um acordo para um novo socorro ao endividado país, em que credores privados assumam parte dos custos, depois que a Grécia passou a ter esta semana a menor classificação soberana do mundo.

Ontem, a Moody"s colocou o BNP Paribas, o Crédit Agricole e o Société Générale (SocGen) sob revisão para um possível rebaixamento, citando o potencial de "inconsistência" entre o impacto de um default grego ou reestruturação, e seus atuais níveis de avaliação. "Depois da deterioração da qualidade de crédito da Grécia, os riscos, embora administráveis, provavelmente aumentaram para certos bancos", disse Nick Hill, analista da Moody"s Investors Service. "Isso resulta dos efeitos diretos de um possível default e dos efeitos secundários, em termos de uma potencial deterioração do crédito do setor privado grego."

Os bancos franceses estão entre os maiores credores da Grécia, com uma exposição total de US$ 53 bilhões às dívidas públicas e privadas gregas, segundo os dados mais recentes do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Os bancos alemães têm uma exposição de U$ 34 bilhões, incluindo empréstimos concedidos através da Kreditanstalt Fuer Wiederaufbau (KfW), a Organização de Crédito para a Reconstrução.

Alguns analistas afirmam que a possibilidade de um calote grego já está embutida nos preços das ações dos bancos europeus, mas as ações do BNP, Crédit Agricole e SocGen caíram entre 2,3% e 2,65% ontem, enquanto os acionistas digeriam o relatório da Moody"s.

Aumentam as preocupações de que uma reestruturação da dívida grega possa ter um efeito dominó potencialmente desastroso para o sistema financeiro europeu, com vários especialistas fazendo uma comparação com o pânico provocado entre os investidores pelo colapso do banco de investimentos americano Lehman Brothers em 2008.

Ministros estão considerando três opções para o envolvimento do setor privado, especificadas em um informe que circulou na Comissão Europeia, ao qual o "Financial Times" teve acesso. A mais dramática prevê uma troca voluntária de dívida, envolvendo uma ampliação dos prazos de vencimento dos bônus do governo grego, para dar a Atenas tempo para enfrentar sua crise da dívida. A segunda e terceira opções preveem uma "rolagem" voluntária dos bônus, casos em que seria menor a possibilidade de um rebaixamento da classificação dos bônus.

Uma reestruturação poderia ter "implicações muito perigosas", segundo alertou ontem o Banco Central Europeu num relatório que afirma que as ligações entre finanças públicas fracas e os bancos são o principal risco à estabilidade financeira da zona do euro.

Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE, disse que os bancos que lançaram dívida do governo grego como garantia junto ao BCE sofreriam um impacto se uma reestruturação da dívida grega fosse tratada como um default. O BCE já disse que poderá não aceitar como garantia qualquer bônus em default, deixando os bancos gregos em particular diante de uma enorme necessidade de financiamento.

Em Atenas, banqueiros mostravam-se céticos ontem com as alegações contidas no mesmo informe, de que precisarão de um capital adicional de ¿ 20 bilhões (US$ 28 bilhões) se os credores privados se envolverem no novo pacote de ajuda. "Precisamos desesperadamente de liquidez, e não de capital", disse um experiente banqueiro de Atenas. "Não podemos nos desalavancar com a rapidez necessária sob as condições atuais.

Os bancos gregos, que estão aguardando para ter acesso a um pacote de garantias estatais adicionais de ¿ 30 bilhões, prometido pelo governo, vêm dependendo do BCE para a liquidez desde que perderam acesso aos mercados atacadista e interbancário há 18 meses, no início de crise.

Todos os seis bancos gregos de primeira e segunda linha anunciaram lucros modestos no primeiro trimestre, apesar do aumento significativo das provisões para perdas com empréstimos. A relação de capital "Tier 1" dessas instituições está em cerca de 10,5%. Um banqueiro disse que o BCE, enquanto emprestador de última instância da zona do euro, poderá continuar aceitando garantias gregas mesmo que a classificação soberana seja rebaixada para default seletivo. "Um emprestador de última instância está aí para isso", disse ele.