Título: Temor com default grego e dados ruins nos EUA derrubam mercados
Autor: Shellock, Dave
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2011, Finanças, p. C2
Financial Times
O aumento das preocupações com a crise da dívida soberana da zona do euro e uma rodada desapontadora de novos indicadores econômicos nos Estados Unidos criaram o cenário para nova onda de vendas de ações, commodities e o euro e uma recuperação dos bônus referenciais dos governos dos Estados Unidos e Alemanha.
"Os mercados continuam num cabo de guerra na avaliação da magnitude da desaceleração da economia mundial e o risco de um default desordenado da Grécia como os motivadores do sentimento dos investidores globais em relação ao risco", disse Lena Komileva, diretora global de estratégia para os países do G-10 na Brown Brothers Harriman.
"Um fluxo contínuo de novos dados econômicos e políticas arriscadas na maratona de negociações sobre a Grécia na Europa deverão alimentar a volatilidade do mercado", acrescentou ela.
Nos mercados de câmbio, o euro ficou um pouco abaixo de US$ 1,42, patamar mais baixo em três semanas, enquanto os preços dos bônus dos governos de países da periferia da zona do euro caíram acentuadamente por causa do aumento das incertezas sobre a Grécia. As novas inquietações do mercado surgem num cenário de protesto violentos contra o governo em Atenas e relatos de que George Papandreou, o primeiro-ministro grego, ofereceu sua renúncia.
Uma sensação de paralisia tomou conta dos mercados depois que uma reunião de emergência dos ministros das finanças da zona do euro não chegou a um consenso sobre o envolvimento dos credores privados em um segundo pacote de ajuda financeira à Grécia. "De muitas maneiras, não estamos mais perto da resolução das crises", disse Gary Jenkins, diretor de análise de renda fixa da Evolution Securities. "Pode ser que a única opção real acabe sendo algum tipo de união fiscal, uma vez que isso daria tempo aos países da periferia do bloco e poderia agir como uma barreira contra o contágio da crise grega."
Contribuindo ainda mais para aumentar as tensões, a agência Moody"s Investors Service colocou as notas de crédito de três grandes bancos franceses sob revisão, por causa de suas exposições à Grécia. O rendimento dos bônus de dois anos do governo grego aumentou 160 pontos-base para 28,02%, enquanto os spreads dos swaps de defaults de crédito de cinco anos - uma medida do custo de securitização contra um calote soberano - aumentou para o recorde de 1.700 pontos-base. Um movimento para a segurança dos títulos da dívida da Alemanha derrubou em 4 pontos-base, para 2,98%, o rendimento dos "Bunds" de 10 anos. Enquanto isso, os Treasuries americanos se recuperaram da grande queda da terça-feira, com o ressurgimento de dúvidas sobre a economia dos Estados Unidos.
O rendimento do Treasury de 10 anos caiu 10 pontos-base, para 3%. A reação ocorreu porque dados maiores que os esperados sobre a inflação, combinados com relatórios mostrando uma fraqueza da atividade industrial, aumentaram o espectro da "estagflação".
O núcleo do índice de preços ao consumidor subiu 0,3% nos EUA em maio, maior aumento mensal em quase três anos, enquanto a pesquisa "Empire" do Fed de Nova York mostrou que a produção industrial na região teve contração pela primeira vez desde novembro. Além disso, a produção industrial cresceu apenas 0,1% no mês passado.
Os temores com a economia americana perturbaram os mercados de ações nos dois lados do Atlântico. Por volta do meio-dia em Nova York o índice Standard & Poor"s 500 caía 0,6%, enquanto o FTSE Eurofirst 300 fechou em baixa de 1,1%. As ações dos mercados emergentes estavam em baixa de 0,5% no mesmo horário. Os preços das commodities industriais também eram afetados pela deterioração do apetite pelo risco.
O preço do petróleo do tipo Brent caiu mais de US$ 2, para US$ 118 o barril, enquanto o cobre, que no começo do dia atingiu o maior nível em duas semanas, terminou a sessão em baixa. O ouro recuperou-se de uma perda inicial, apesar de uma recuperação significativa do dólar.