Título: Controle de capitais no Brasil é viável, afirma Blanchard
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2011, Brasil, p. A4
De São Paulo
O uso de controle de capitais no Brasil é justificado e parece conseguir ao menos limitar a valorização do câmbio, afirmou ontem o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard. Para ele, o país não está usando o mecanismo no lugar de outras medidas que deveriam ser adotadas, mas como um instrumento a mais entre os disponíveis na política econômica.
"Ainda estamos tentando ver o que funciona e o que não funciona, e nenhum controle de capitais é perfeito. No caso do Brasil, eles parecem pelo menos limitar a apreciação do câmbio", disse Blanchard, que participou de encontro com alunos e professores da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Segundo o economista francês, quando um país recebe um fluxo expressivo de capitais isso significa potencialmente que o resto do mundo está disposto a financiá-lo, o que é positivo. A questão é que os investidores podem mudar de ideia e pode ser complicado absorver um volume muito grande de recursos externos. Nesse caso, o uso de controle de capitais pode se justificar, dependendo das condições do país.
Também presente ao evento, o diretor de mercado de capitais do FMI, José Viñals, disse que a questão do controle de capitais não é cíclica - é "algo estrutural, que veio para ficar", segundo ele. Vinãls lembrou que a crise mudou dramaticamente a percepção de risco dos mercados emergentes em comparação com os países desenvolvidos, citando o caso de que o risco-país brasileiro, medido pelos chamados swaps de default de crédito (CDS, na sigla em inglês, que funciona como um seguro contra o calote do devedor), está menor que o americano.
Com melhores fundamentos, menores níveis de endividamento e com melhores perspectivas de crescimento, os emergentes aparecem como uma melhor opção de risco/retorno, disse Viñals, acrescentando que, na carteira dos grandes investidores globais, a fatia dos países em desenvolvimento ainda é relativamente pequena. Isso indica que, nos próximos anos, essa exposição tende a aumentar, devendo intensificar, desse modo, o fluxo de capitais externos.
Viñals respondeu à pergunta mais espinhosa do evento, ao ser questionado por um aluno sobre que efeitos a eventual quebra da Grécia produziria sobre países europeus como Portugal, Espanha e Portugal e sobre países da América Latina. Ele lembrou o envolvimento do FMI no programa de reestruturação na Grécia e disse acreditar que as autoridades gregas possam endossar o que foi acertado com a instituição e consigam implementar as medidas de ajuste.
"Mas, se acidentes acontecerem, haverá um impacto financeiro", disse, lembrando, porém, que a Espanha tem tomado medidas importantes para recuperar a credibilidade nos mercados internacionais, conseguindo descolamento significativo nos últimos meses.
Blanchard acrescentou que, num cenário como o descrito pelo aluno, o maior perigo para o Brasil seria o que poderia ocorrer com a Espanha, mas destacou acreditar que, nesse caso, "medidas seriam tomadas para proteger os bancos espanhóis, limitando o efeito que poderia atingir o Brasil". Esse cenário de ruptura, porém, não é com o qual o FMI trabalha.