Título: Ingerência na administração gerou rompimento com antecessor
Autor: Camarotto, Murillo
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2011, Política, p. A10
Do Recife
O rompimento político entre o atual prefeito do Recife, João da Costa, e o antecessor João Paulo ganhou contornos folclóricos na capital pernambucana. A recusa dos envolvidos em esclarecer de forma definitiva os reais motivos do desentendimento alimentou uma série de versões, inclusive a de que ex-prefeito poderia deixar o PT para enfrentar o antigo pupilo nas eleições do ano que vem.
No Carnaval do ano passado, um famoso bloco do Recife fez graça com o jingle da campanha de João da Costa, que aproximava criador e criatura sob o mantra de que "João é João". Já na festa deste ano, o ex-prefeito gerou polêmica ao posar para uma foto segurando uma placa que dizia: "Elegi o poste".
Ao Valor, João da Costa alegou a existência de "divergências na forma de conduzir o governo", mas deixou escapar que o antecessor tentou continuar no comando das decisões. "Eu achei que o Recife não comporta um prefeito que assuma a prefeitura e não a exerça e fato", afirmou. "A população pode dizer que o prefeito não presta, mas eu assumi o meu papel. Ninguém pode dizer que não sou o prefeito da cidade do Recife. Sou de direito e de fato", completou.
João Paulo, por sua vez, mantém o silêncio. Ele não descarta entrar na disputa pela prefeitura em 2012, mas admite ter dificuldades de relacionamento dentro do PT. Além do atual prefeito, ele não morre de amores pelo líder do partido no Senado, Humberto Costa, no que é correspondido. Ainda assim, diz não ter planos de deixar a sigla que ajudou a fundar.
Mesmo se o fizer, o ex-prefeito teria grande dificuldade em viabilizar uma candidatura competitiva. De acordo com um petista influente, a única alternativa para João Paulo seria migrar para a oposição. "Se ele for para qualquer partido da base, o governador vai em cima. Chega para o partido e pede para que não o lance candidato". (MC)