Título: BC dá força à aposta em nova alta da Selic em julho
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2011, Finanças, p. C8
De Brasília Ao apresentar uma ata com um cenário praticamente igual a do encontro de abril, o Banco Central (BC) indicou ao mercado que deve voltar a subir a taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de julho. E deixou também aberta a porta para uma possível alta dos juros em agosto.O documento traz o conjunto de fatores que o Copom considerou para tomar a decisão de subir os juros em 0,25 ponto para 12,25%, na semana passada. Esse cenário é anterior, portanto, à sensível piora do quadro global, observada a partir de indicadores fracos da economia americana e com o agravamento da crise fiscal da União Europeia. Para analistas, é a evolução do ambiente externo que pode portanto, mudar o rumo da política monetária. Na ata, o BC já observou que o cenário para a inflação apresenta "sinais mais favoráveis", se comparado ao quadro de abril, com grande parte do choque de commodities já incorporado aos preços. Ao mesmo tempo, ressaltou que o ambiente externo se deteriorou desde então, com maior volatilidade nos mercados, incerteza com relação ao desempenho das grandes economias e influência "ambígua sobre a inflação doméstica". Nesse contexto, o BC preferiu manter a estratégia de elevações graduais dos juros por um período "suficientemente prolongado", indicando que novas altas da Selic devem acontecer.
O documento traz poucas novidades em relação ao anterior. Essa similaridade entre as análises indica que o aperto deve prosseguir por pelo menos mais duas reuniões, diz Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.
Para o diretor do Bradesco, conforme já sinalizado na ata anterior e no último comunicado, o Banco Central parece encontrar-se em "voo de cruzeiro", ainda não preparando o terreno para que a última elevação ocorra já na próxima reunião. "Acreditamos que a próxima alta de juros em julho está praticamente garantida (exceto se houver uma crise global vinda da Europa) e, portanto, a discussão relevante se concentrará na decisão do Copom de 31 de agosto."
Para o BTG Pactual, o mais provável é que o Copom eleve a Selic mais uma vez em julho, mas a ata deixou as portas abertas para uma alta adicional em agosto, diz análise dos economistas Eduardo Loyo e Claudio Ferraz.
As projeções do BC para 2012 não mudaram em relação à ata anterior e continuam apontando inflação "acima do centro da meta" de 4,5%. Em um cenário alternativo, que considera o câmbio estável, a projeção está acima da meta em 2011, mas aparece em torno dela já no próximo ano.
Com relação à atividade econômica, o BC avalia que há de fato uma moderação, mas o ritmo ainda é "incerto". O IBC-Br, indicador antecedente do PIB medido pela autoridade monetária, mostrou expansão de 0,44% em abril, avanço ainda acima do potencial, na visão dos economistas do banco Barclays Capital.
Mas o BC se mostrou nessa ata um pouco mais otimista. "Embora incertezas crescentes que cercam o cenário global e, em escala bem menor, o cenário doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões inflacionárias recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação mostra sinais mais favoráveis."
A explicação do BC para esse otimismo é que as evidências sugerem que os preços ao consumidor já incorporaram grande parte dos efeitos diretos dos choques externos que afetaram a economia no primeiro trimestre. Além disso, a autoridade avalia que os efeitos diretos da concentração atípica de reajustes de preços administrados ocorrida no primeiro trimestre deste ano mostram "sinais de reversão". Por fim, o BC considera que ainda são relevantes os riscos derivados da persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda, mas que "já há sinais de que esse descompasso tende a diminuir."
O BC acredita que a inflação acumulada em doze meses comece a recuar a partir do quarto trimestre. Mas um dos principais riscos apontados na ata é a estreita margem de ociosidade dos fatores de produção, especialmente de mão de obra e na "possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade".