Título: Munich Re vê boas perspectivas para segmento no país
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2011, Agronegócios, p. B14

De São Paulo

Maior resseguradora do mundo, com prêmios que totalizaram ¿ 23,6 bilhões no ano passado, a alemã Munich Re espera forte incremento em seus negócios com resseguro agrícola no Brasil nos próximos anos. Líder global neste segmento, com prêmios que deverão somar ¿ 700 milhões em 2011, a empresa acredita que o arcabouço público e privado para o desenvolvimento desse mercado no país está sendo aperfeiçoado e que as boas perspectivas para o agronegócio brasileiro nos próximos anos, aliadas ao processo de profissionalização de agroindústrias e produtores, tendem a estimular a utilização de ferramentas de proteção de produção e renda dos agricultores.

Dos prêmios totais que a multinacional prevê conquistar na frente rural neste ano, apenas ¿ 15 milhões deverão ser obtidos no Brasil. Mesmo assim, deverá manter a participação de 9% que tem na área de resseguro agrícola, fortalecida a partir do fim do monopólio do IRB no mercado brasileiros de resseguros em geral, em 2008. Como apenas uma pequena parte da produção agropecuária brasileira está segurada, a múlti espera a aceleração de seu avanço no ramo. "O potencial é enorme", afirma ao Valor Christian Garbrecht, chefe de gestão e controle de riscos da Munich Re do Brasil.

Para turbinar seu crescimento, a resseguradora alemã tem recorrido à experiência adquirida nos mais de 20 países em que opera na área rural. "Procuramos observar o que os países de sucesso no segmento têm em comum, bem como os fatores que prejudicaram mercados que tentaram desenvolvê-lo e não conseguiram", diz Konrad Mello, responsável técnico pelo segmento no país. Do lado positivo, os Estados Unidos são o grande referencial. Por lá, de 80% a 85% da área da agropecuária é segurada. "Nos EUA, como em outros países de sucesso, há uma agência reguladora específica para a área", afirma.

A agência americana é vinculada ao Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que tem status de ministério. No Brasil, o ramo também está sob a guarda do Ministério da Agricultura, que instalou em 2004 a Câmara Temática de Financiamento e Seguro do Agronegócio, que reúne 33 instituições públicas e privadas, para promover o desenvolvimento desse mercado. A câmara não tem, porém, os poderes de uma agência reguladora. Nos EUA, a Munich Re tem à disposição das seguradoras resseguro para cerca de 60 culturas, com destaque para milho, trigo e soja; no Brasil, há 48 produtos no portfólio da empresa, também com destaque para os grãos.

Como o campo é muito exposto a riscos climáticos, as resseguradoras são particularmente bem vindas pelas seguradoras, que emitem as apólices para a proteção das plantações mas têm de diluir o risco de acordo com sua própria capacidade financeira. No Brasil, a maior parte dos negócios no segmento está ressegurada, com os prêmios divididos entre as partes. "Também assessoramos as seguradoras na adaptação de sistemas sustentáveis e rentáveis", afirma Garbrecht. "Para grandes produtores, também podemos fazer parcerias para o desenvolvimento de soluções específicas", diz Mello.

Apesar do otimismo em relação ao crescimento do mercado brasileiro - o Ministério da Agricultura estima que 50% das áreas das principais lavouras do país estarão seguradas em quatro anos, ante 12% atualmente -, a Munich Re alerta que governo, seguradoras, resseguradoras e produtores rurais têm de continuar colaborando para a disseminação do seguro rural no Brasil. "Um sistema agrícola de sucesso tem de ser no sistema "PPP"", afirma Garbrecht. Por isso a multinacional alemã defende o incremento das políticas federal e estaduais de subvenção aos prêmios do seguro agrícola e um fundo de catástrofe sólido ao qual seguradoras e resseguradoras possam recorrer em caso de fortes danos climáticos e elevadas sinistralidades.

Além do Brasil, destaca Lambert Muhr, chefe do departamento agrícola da Munich Re na América Latina, a empresa vê bons potenciais para o segmento em mercados como Argentina, Paraguai, China, Turquia e Leste Europeu, sobretudo Rússia, Ucrânia e Cazaquistão.