Título: Mercado esperava manutenção da meta para 2013
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2011, Brasil, p. A3
A definição do governo federal de manter em 4,5% a meta de inflação para 2013, conforme informado ontem pelo Valor, divide a opinião de analistas. O mercado já previa que o governo não iria reduzir a meta perseguida há nove anos, mas alguns economistas discordam da visão de que o país não está pronto para perseguir uma taxa menor de inflação sem comprometer o crescimento.
Outros analistas, contudo, acreditam que o BC foi "cauteloso" em não reduzir a meta de inflação neste momento para não provocar mais ruído num já conturbado cenário inflacionário.
"Manter a meta de inflação em 4,5% em 2013 não é a melhor alternativa", afirma Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria. "O ideal seria o Brasil começar a convergir para metas internacionais, que são mais baixas". Para Neto, não é necessariamente verdadeira a relação entre meta menor e elevação da taxa básica de juros. "Se houver um compromisso de longo prazo, naturalmente haverá uma acomodação [da inflação] sem que seja necessário aumentar os juros. Apenas a credibilidade alta poderia ser suficiente, não haveria um custo adicional."
Segundo Fábio Ramos, da Quest Investimentos, o governo não tem interesse político em reduzir a meta de inflação na atual fase da economia. "Acho desejável a redução da meta, mas não factível. Se isso significar um crescimento aquém dos 4% previstos para 2012, o governo não topa e prefere manter a meta, ainda que ache razoável uma meta menor".
Ramos e Neto concordam que a indexação da economia é um dos principais entraves ao comprometimento do Conselho Monetário Nacional (CMN) com uma meta inferior. "Desindexar é importante porque ajudaria a política monetária. Mas é difícil fazer isso, porque há contratos já assinados, regras de tarifas públicas, regras de salário mínimo", pondera Neto, para quem é preciso primeiro diminuir a inflação para depois desindexar os reajustes.
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, reconhece que uma inflação anual de 4,5% não é um "patamar agradável", mas acredita que o governo fez certo em não alterar a meta para 2013. "Ainda existem muitas dúvidas a respeito do comportamento da inflação no Brasil, e a coisa que o BC menos quer agora é criar mais ruído", comenta. Segundo ele, jogar para baixo a meta de inflação acarretaria um aumento dos juros longos no país, o que o governo não pretende, pois a taxa básica de juros já está em 12,25%.
Perfeito considera inevitável uma inflação ainda alta nos próximos anos por conta do crescimento econômico, outro motivo pelo qual o governo pode ter decidido manter a meta. "Vejo isso porque a inflação que mais incomoda é a de serviços. Se a renda continuar subindo, essa nova classe média vai continuar pressionando [a demanda], e é normal que isso aconteça", diz.