Título: Emprego cresce em ritmo menor
Autor: Braga, Gustavo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2010, Economia, p. 12

Alta dos juros, fim dos incentivos fiscais e período das eleições impactam a criação de postos formais de trabalho em julho.

O ritmo de geração de empregos formais caiu pelo terceiro mês consecutivo, com saldo de 181 mil postos em julho, ante o saldo de 212 mil no mês anterior. Apesar da desaceleração, quando comparado ao mesmo período do ano passado, houve crescimento de 6,8%. Já no acumulado de 2010, o saldo é de 1,6 milhão de novas vagas com carteira assinada, resultado recorde para os sete primeiros meses de um ano. Proporcionalmente, a construção civil é o setor que mais cresceu no mês, com variação de 1,54%. Já o setor de serviços é o que mais gerou empregos em números absolutos: 61,6 mil. Apenas três estados apresentaram queda no número de postos: Roraima (-0,34%), Distrito Federal (-0,01%) e Amapá (-0,04%), resultados interpretados como estabilidade.

A expectativa do Ministério do Trabalho é fechar 2010 com 2,5 milhões de novos empregos, número considerado razoável pelo professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos. ¿Com o aumento dos juros e o fim dos incentivos fiscais, é natural haver um reflexo na geração de empregos, mas nada que seja motivo para preocupação. A economia continua a crescer em ritmo forte e a tendência é de os empregos formais seguirem crescendo.¿ De acordo com Ramos, o segundo semestre deverá registrar aumento generalizado de vagas, principalmente na construção civil, graças à alta oferta de crédito e programas como o Minha Casa, Minha Vida e o de Aceleração do Crescimento (PAC).

¿Criou-se um ciclo virtuoso. Quanto mais empregos formais, mais pessoas têm acesso ao crédito, logo passam a comprar e gerar novos empregos¿, avalia o professor da UnB. O ciclo mencionado pode ser observado, por exemplo, na rede de supermercados Comper. O aumento do poder de compra dos consumidores levou a empresa a inaugurar no Distrito Federal uma loja no último ano e a iniciar reformas em outras duas para oferecer novos serviços aos clientes. De acordo com o gerente-regional Carlos Paes, o quadro de trabalhadores aumentou 50% devido às reformas. ¿Atualmente, temos cerca de 120 trabalhadores terceirizados de construtoras que estão empenhados exclusivamente nas obras¿, revela.

Comércio Já o professor de economia da Trevisan Alcides Leite aposta que o grande destaque do segundo semestre será o comércio. ¿Tradicionalmente, é o período que as empresas contratam para suprir as demandas do Natal e do Dia da Criança¿, pondera. O ministro do Trabalho(1), Carlos Lupi, atribui o desempenho abaixo da média observado no DF à legislação eleitoral, que restringe nomeações de servidores até o fim do ano. Quanto a Roraima e Amapá, Lupi disse que a estabilidade nos empregos é normal, já que são estados com economias menos representativas.

A Região Norte foi a que, proporcionalmente, apresentou maior crescimento no número de empregados com carteira assinada em comparação ao mês anterior: 0,83%, ou 12 mil postos. Porém, em números absolutos, o Sudeste continua como a região que mais gerou empregos no país: 90,9 mil vagas formais. O Nordeste, única região com crescimento econômico durante o segundo trimestre conforme relatório do Banco Central, também se destacou. A região teve saldo de 40,6 mil empregos, variação positiva de 0,78% no período.

1 - Faltam máquinas Questionado sobre o motivo para o adiamento da adoção do novo ponto eletrônico, do próximo dia 26 para março de 2011, Carlos Lupi negou ter cedido a pressões dos setores produtivo e empresarial. ¿Quem me conhece sabe que eu não sou homem de sofrer pressões. Estou convicto de que essa medida é boa para os dois lados¿, disse. O ministro justificou a decisão como necessária, após a constatação de que não haveria equipamentos suficientes no mercado para suprir o número de empresas que precisam se adaptar ao novo sistema.