Título: Destino da Grécia pode ser selado hoje
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2011, Finanças, p. C2

A falta de presteza que caracteriza a tomada de decisão na zona do euro pode ser colocada à prova ainda hoje. Tudo depende do resultado da moção de apoio ao novo gabinete formado pelo primeiro-ministro, George Papandreou, que o parlamento grego avaliará nesta terça-feira à noite.

Se Papandreou for derrotado, isso quer dizer que os planos de austeridade não têm chance de ser aprovados, ou seja, a contrapartida aos empréstimos externos não existirá.

No pior dos casos, a Grécia poderá ficar até sem governo, pois o primeiro-ministro pode desistir do cargo e novas eleições podem ser chamadas. Se for esse o caso, Banco Central Europeu (BCE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e União Europeia (UE) não têm com quem negociar.

Mesmo que a estratégia política de Papandreou, que chamou gente da oposição para compor o novo gabinete, dê resultado, o primeiro-ministro terá de aplacar a fúria das ruas. E já estão convocados novos protestos para hoje.

Um observador mais arguto pode questionar: do que adianta aprovar medidas e cumprir com as determinações dos organismos internacionais se isso significa passar por cima da população?

Certamente, toda essa crise na região vai se traduzir em "novos" resultados eleitorais, com possível perda de espaço para os mais "moderados", que concordam em ajudar os "primos pobres" do Sul da Europa.

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes e um endividamento de ¿ 330 bilhões, cada grego "deve" cerca de ¿ 30 mil. E como o país não demonstra dinamismo econômico, a saída é apertar o cinto em todas as áreas. Os planos preveem aumento de impostos e corte de salários.

Apesar do posicionamento cauteloso e discurso aterrorizador de alguns participantes de mercado, a percepção é de que a Grécia vai receber dinheiro. Mas isso significará apenas uma "compra de tempo", pois não se vislumbra uma estratégia crível de aumento de receitas e corte de despesas.

No mercado brasileiro, a formação da taxa de câmbio continua atrelada ao comportamento do euro e, consequentemente, ao humor externo. Ontem, tanto o real quanto o euro começaram o dia sob pressão vendedora, mas acabaram garantindo leve valorização.

No mercado à vista, o dólar comercial terminou com ligeira baixa de 0,12%, a R$ 1,595 na venda. Mas a moeda chegou a R$ 1,609 na máxima.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para julho perdia 0,15%, a R$ 1,601, antes do ajuste final.

No mercado de juros, um novo pregão de baixa oscilação e limitado volume de negócios.

Conforme notou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, essa falta de movimentação é reflexo do consenso quanto ao próximo passo de política monetária.

Segundo o economista, o mercado já colocou na conta ao menos mais uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic na reunião de julho do Comitê de Política Monetária (Copom).

Fica a dúvida sobre novo ajuste ou fim de ciclo em agosto, mas para tomar essa decisão ou fazer apostas os agentes aguardam novos indicadores.

De acordo com Rosa, os números da semana podem ajudar nisso. Agora pela manhã, sai o Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de junho, que deve mostrar inflação ao redor de 0,20%, recuando de 0,70% em maio, e na quarta-feira é conhecida a taxa de desemprego, para a qual está prevista estabilidade em 6,4% em maio

Vale lembrar que a segunda-feira também contou um melhora na nota soberana brasileira. A Moody"s subiu a classificação do país de "Baa3" para "Baa2". Em abril a Fitch já tinha dado largada à nova rodada de revisão, subindo o rating brasileiro para "BBB". Falta, agora, a Standard & Poor"s, que, por ora, apenas elevou a perspectiva para positiva.

Segundo Rosa, esse aumento de nota é algo bastante positivo, ainda mais dentro desse ambiente de turbulência internacional. A notícia, no entanto, não foi determinante na formação de preço dos ativos financeiros, pois tem cara de "confirmação".

Eduardo Campos é repórter