Título: Favorita, Cristina anuncia candidatura na Argentina
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2011, Internacional, p. A12
De Buenos Aires Em discurso transmitido ao vivo por cadeia nacional de rádio e TV, com ministros e parlamentares entoando cantos peronistas na plateia, na Casa Rosada, a presidente Cristina Kirchner anunciou ontem sua candidatura à reeleição na Argentina. "Vamos seguir adiante", disse Cristina, disparando uma explosão de aplausos, ao explicar que tomou sua decisão em 27 de outubro do ano passado - o dia da morte de seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner. "Meu compromisso é irrenunciável e irrevogável, não só pelo seu legado e pela sua memória, mas também pelos jovens", disse Cristina. A quatro dias do prazo final de inscrição das candidaturas, ela termina com o mistério alimentado pelos kirchneristas em torno da sua reeleição. Nas palavras dela, foi "um exercício de responsabilidade não adiantar-se no tempo" e "chega um momento em que aborrece" a quantidade de rumores sobre as pressões de seus dois filhos para desistir de um novo mandato.
Boa parte das pesquisas indica vitória de Cristina já no primeiro turno, em 23 de outubro. Uma sondagem divulgada na semana passada pelo instituto Management&Fit, um dos mais respeitados do país, aponta que um em cada quatro eleitores ainda está indeciso. A presidente tem 33,4% das intenções de voto, e o deputado Ricardo Alfonsín, da União Cívica Radical (UCR) e filho do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989), tem 15,3%. O governador de San Luis, Alberto Rodríguez Saá, um peronista dissidente, chega a 6,9%.
À diferença do que ocorre no Brasil, para vencer no primeiro turno é preciso ter 45% dos votos válidos, ou 40% desde que com vantagem mínima de dez pontos percentuais para o segundo colocado. "Não temos dúvida de que podemos chegar ao segundo turno", disse ontem o vice na chapa de Alfonsín, Javier González Fraga, ex-presidente do Banco Central.
O evento em que Cristina fez o anúncio foi um pequeno retrato dos hábitos políticos do kirchnerismo. Ocorreu em meio ao lançamento do programa "LCD para Todos", que venderá aparelhos de TV com financiamento subsidiado pelo Banco de la Nación. Como tem feito desde a morte súbita do marido, ela usou um vestido preto. Por último, a Casa Rosada cultivou o mistério sobre a sua candidatura até a última semana possível, da mesma forma que Kirchner fez em 2007 - quando ninguém sabia se ele ou ela seria candidato.
"Todo o luto foi um melodrama teatral", atacou ontem a deputada Elisa Carrió, também candidata e que tem 4% nas pesquisas. Para o cientista político Fabián Perechodnik, diretor da Poliarquia Consultores, não houve surpresa e "o cenário está consolidado desde a morte de Kirchner". A aprovação a Cristina, medida mensalmente pela consultoria, saltou para 55%. Na crise com o campo, pelo aumento do imposto de exportação agrícola, havia caído a 20%. Desde o fim de maio, respinga na Casa Rosada um escândalo de corrupção envolvendo recursos repassados à fundação das Mães da Praça de Maio, aliada de Cristina. "Por enquanto, não se observa impacto negativo muito marcado", diz o analista.