Título: Câmbio e juros andam na contramão das políticas industriais
Autor: Pedroso,Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2011, Brasil, p. A3

Substituta do Plano de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a Política de Desenvolvimento Competitivo - que ainda deve trocar de nome até o anúncio oficial- prevê uma série de incentivos à atividade industrial do país com o objetivo de aumentar a participação de investimentos de capital fixo no Produto Interno Bruto (PIB), elevar o dispêndio do setor privado com ciência e tecnologia e aumentar a importância da indústria na economia. O pacote de medidas - que deve ser anunciado em julho -, no entanto, não deve ser suficiente para aumentar a participação da indústria nacional no PIB, segundo economistas e representantes do setor. O problema, dizem, é que o binômio câmbio-juros tem atuado na direção contrária a das políticas industriais.Uma recente nota técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (Dieese) comparou a participação da indústria de transformação no PIB nas últimas cinco décadas e mostrou que ela vem oscilando entre 15% e 20% desde 1997. No ano passado, ficou em 15,9% - o menor ponto da série desde os 15,5% registrados em 1997, ano em que o país registrou déficit comercial de US$ 11 bilhões apenas na conta de exportações e importações da indústria de transformação.

Esse cenário de perda de peso na economia não mudou com os últimos dois planos (a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior - Ptice, de 2004, e o PDP, de 2008). Em 2004, a indústria respondeu por 19,2% do PIB e, em 2008, por 16,6%.

Apesar de a tentativa de impulsionar a indústria ser válida, ela não contempla seu fim, segundo o professor de economia da Unicamp Mariano Laplane. "Os PDPs não são suficientes para a indústria crescer mais que a economia. Os efeitos que as medidas desses planos pretendem acabam se perdendo por conta da alta taxa de juros e do câmbio apreciado, que estão em valores desalinhados em relação ao resto do mundo. Caso esses preços estivessem de acordo com a realidade mundial, teríamos resultados muito mais favoráveis à indústria."

Na ocasião de seu lançamento, o PDP previa que a taxa de investimentos em capital fixo iria representar 21% do PIB em 2010. No ano passado, o número foi de 18,4%. A expectativa do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), é de que os investimentos se elevem a 23% até 2014. Melhores condições de crédito junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que diminui o custo de investimento, redução do prazo de apropriação de créditos do PIS/Cofins e financiamento maior a projetos de inovação tecnológica são algumas das medidas do novo plano. Outra meta perseguida pelo governo é fazer o setor privado elevar o gasto com ciência e tecnologia de 0,55% para 0,9% do PIB.

As melhores condições de produção oferecidas à indústria são bem-vindas, mas chegam tarde, de acordo com Mario Bernardini, assessor da presidência da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "Todas as medidas são defensáveis, mas possuem pouco efeito sobre a conjuntura macroeconômica. Se elas tivessem sido implementadas há quatro, cinco anos, a indústria estaria mais competitiva mesmo com a crise. A questão é que não se mexe no essencial, que é a taxa de juros e o câmbio."

Para Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, a tentativa do governo de criar uma nova política industrial é útil para criar um ambiente mais favorável à indústria. "A grande vantagem é a organização de prioridades dentro do governo, diminuindo a burocracia. Essa interlocução entre o setor privado e o público é positiva."

No ano passado, quando a indústria teve participação no PIB semelhante a do "vale" de 1997, o déficit comercial da indústria de transformação foi muito superior e somou US$ 36,9 bilhões. Os setores de mecânica (US$ 17,4 bilhões), material elétrico e comunicação (US$ 17,1 bi) e química (US$ 11,8 bi) foram os que apresentaram maior déficit em 2010.

O número de empregos formais como um todo na indústria, no entanto, saltou de 9,7 milhões em 2009 para 10,5 milhões em 2010, apresentando um crescimento de 8%. Desde 2005, quando 7,6 milhões de pessoas estavam empregadas no setor industrial, o número vem aumentando, apesar da perda de espaço.

Os dados mostram que a indústria como um todo está crescendo, mas não acompanhando o conjunto da economia. A reclamação maior, para Mario Bernardini, é de perda de competitividade. "A indústria não está encolhendo em valor absoluto, mas em valores relativos."

A menor participação da atividade industrial no PIB nos últimos anos, no entanto, não representa uma queda de produção, segundo Mariano Laplane. "Não há desindustrialização. Acontece que a indústria cresce em um ritmo menor que os outros setores", afirma o professor da Unicamp. (*Texto produzido no Curso de Jornalismo Valor Econômico)