Título: Tesouro enfrenta megavencimento
Autor: Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2011, Finanças, p. C1

De Brasília

O vencimento de R$ 119 bilhões em títulos públicos do dia 1º de julho é o maior previsto para este ano. O compromisso será quitado com o uso parcial do colchão de liquidez, que possui recursos entre três e cinco meses de vencimentos da dívida pública federal, e com os valores das emissões líquidas de títulos feitas até junho.

Do total a vencer, R$ 99 bilhões correspondem a títulos emitidos em anos anteriores, sendo a maior parte, R$ 97 bilhões, em Letras do Tesouro Nacional (LTN), papel com rentabilidade prefixada. Outros R$ 2 bilhões são de Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F), que pagam ao investidor fluxo de cupons semestrais de juros.

Completa a cifra de R$ 119 bilhões o volume de R$ 20 bilhões em LTNs emitidas no último dia 14. A autorização para essa emissão recente com vencimento também em 1° de julho consta da Portaria 395 do Tesouro. Publicada na semana passada, essa portaria autorizou a emissão de títulos destinada a capitalizar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em R$ 30 bilhões.

Essa operação de capitalização transferiu outros R$ 10 bilhões em NTN-B ao banco de fomento. Esse papel corrigido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem, no entanto, vencimentos a médio e longo prazos.

Ao comentar a grande operação de resgate nos próximos dias, o subsecretário da Dívida Pública, Paulo Valle, lembra que o vencimento elevado de papéis em julho integra a estratégia do programa anual de financiamento da dívida, que prevê a concentração dos resgates nos chamados "meses cabeça de trimestre" (primeiro mês dos trimestres).

A concentração é adotada para facilitar a gestão da dívida em três ou quatro grandes vencimentos ao longo do ano, preferencialmente em janeiro, abril, julho e outubro. "Pelo volume de vencimento, em julho haverá resgate líquido. Já em junho, deveremos ter emissões líquidas", informa ele ao ressaltar que a análise do alto vencimento tem que considerar a estratégia anual de gestão da dívida pública federal.

A consequência desse expressivo vencimento em papéis federais no próximo dia 1º será a redução da parcela prefixada da dívida em julho. "Isso é normal", diz Paulo Valle, ao fazer referência aos meses em que há concentração de resgate de LTNs.

O Tesouro persegue a ampliação desse tipo de dívida com rentabilidade prefixada por serem títulos que oferecem maior previsibilidade na gestão do passivo. Ou seja, não provocam flutuação dessa dívida.

Ao fazer o resgate de R$ 117 bilhões somente em LTNs em julho, a parcela prefixada da dívida cairá, relegando para o período entre agosto e dezembro a responsabilidade do Tesouro de fazê-la aumentar.

Para 2011, o Tesouro estipulou meta de participação da dívida prefixada em relação ao total da dívida pública entre 36% e 40%. Em abril, esse percentual estava inferior a essa diretriz, em 34,81%. "A meta é para o ano. Até dezembro, estaremos, com certeza, dentro dessa banda", assegura Paulo Valle.

Após o resgate no próximo mês, o Tesouro terá ainda de administrar outros R$ 78,7 bilhões em vencimentos programados para entre agosto e dezembro.