Título: Parlamento grego reduz risco de calote
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2011, Finanças, p. C2
A quarta-feira tem tudo para ser um dia positivo nos mercados já que o parlamento grego concedeu o esperado voto de confiança ao novo gabinete do primeiro-ministro George Papandreou.
Não que todos os problemas do país estejam resolvidos, mas ao menos a existência de um governo está garantida. Ou seja, Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e União Europeia (UE) têm com quem negociar.
A próxima batalha de Papandreou é aprovar o plano de austeridade. Aí sim fica aberto o caminho para o país receber ¿ 12 bilhões em ajuda financeira e evitar entrar para a história como o primeiro país da zona do euro a dar um calote de curto prazo. Isso mesmo, curto prazo, pois se estima que já em setembro o país volte a precisar de um suporte para não ruir.
Na terça-feira, toda a formação de preço dos ativos financeiros nas praças locais e externas girou em torno desse voto de confiança.
Os agentes operaram "comprados" (apostando) na vitória de Papandreou. Por isso, o dia foi de exposição a riscos, com alta nas bolsas e commodities e queda na cotação do dólar.
Fica a dúvida se veremos um clássico "compra no boato e vende no fato". E há espaço para isso, já que a vitória foi apertada, com pouco mais da metade dos 300 parlamentares votando a favor. Ou seja, a margem para aprovar medidas impopulares não é muito grande.
Por aqui, o dólar comercial completou o terceiro dia de baixa ao cair 0,37%, para R$ 1,589 na venda.
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para julho apontava queda de 0,65%, a R$ 1,5905, antes do ajuste final. Para quem gosta de análise gráfica o próximo objetivo de baixa estaria em R$ 1,586.
No segmento de juros futuros, depois de dias "andando de lado", os contratos longos tiveram um pregão com movimentação e volume mais expressivo. As taxas longas encerram o dia apontando para cima na BM&F.
O gatilho foi o Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de junho, que desacelerou menos que o previsto.
A taxa saiu de 0,70% em maio para 0,23% em junho. Os prognósticos estavam concentrados em 0,17%. Em 12 meses, a prévia da inflação oficial ficou em 6,55%, novamente acima do teto da meta de 6,5%. Esse foi o décimo mês de alta nessa medição.
Mas não foi só a variação acima do previsto que desagradou. Os núcleos do indicador aceleraram. Conforme o Banco ABC Brasil, em relatório, no acumulado de 12 meses a média dos núcleos chegou a 6,34%, a maior medição desde setembro de 2005. Os serviços recuaram na comparação mês a mês, mas seguem acima do teto da meta em 12 meses, ao marcar 6,68%.
Fora isso, a queda de preço ficou concentrada em itens que tinham observado algum choque. O resumo é o seguinte: os dados reforçam o caráter pontual da queda de preços.
O resultado também diminuiu as apostas de deflação para o IPCA fechado do mês. O Banco Fator, por exemplo, reviu a previsão de deflação de 0,03%, para inflação de 0,10%.
Hoje, o sinal vem pelo lado da atividade, com a divulgação da taxa de desemprego de maio. Está prevista estabilidade em 6,4%. Com isso, atenção ao comportamento do rendimento real do trabalhador.
As apostas quanto aos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) não sofreram grande alteração, já que os vencimentos curtos fecharam praticamente estáveis. O mercado segue posicionado para nova alta da Selic em julho e dividido quanto ao resultado do encontro de agosto.
Segundo o sócio da Mercatto Investimentos, Gabriel Goulart, apesar de ata do Copom ter sinalizado elevação do juro básico em julho, esse é um resultado ainda em aberto. Pesam as incertezas que rondam o quadro externo, como o rumo da política monetária nos Estados Unidos, o crescimento da China e os problemas de endividamento na Europa. Soma-se a isso o comportamento da inflação e do crescimento por aqui.
Mesmo com probabilidade menor, Goulart não descarta a possibilidade de o Copom optar pela estabilidade da Selic em 12,25% no próximo encontro.
No mercado externo, as atenções estarão voltadas à entrevista que o presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, Ben Bernanke, dará após a decisão de juros.
A expectativa é de que ele mostre confiança no cenário já delineado: apesar do momento ruim, a atividade volta a tomar fôlego no segundo semestre, à medida que se dissipem os efeitos do petróleo mais caro sobre o consumo e do terremoto do Japão sobre a cadeia produtiva.
Bernanke também deve confirmar o encerramento do programa de compra de US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro, o chamado "Quantitative Easing 2", que começou em novembro.
Eduardo Campos é repórter