Título: Deflação do IPC-S em junho será ponto fora da curva
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2011, Brasil, p. A3

De São Paulo

Após registrar sua menor taxa desde a terceira semana de agosto de 2010, analistas do mercado veem forte probabilidade de o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), calculado pela Fundação Getúlio Vargas, encerrar junho em deflação. A própria fundação alerta, contudo, que o mês será um ponto fora da curva. O indicador teve variação negativa de 0,15% na terceira prévia de junho, depois de alta de 0,02% na semana anterior.

"Temos este mês fechando perto de zero, o que não é tendência para os próximos meses", afirma Paulo Picchetti, coordenador do IPC-S, para quem é improvável que neste ano se repitam as quedas registradas em junho, julho e agosto de 2010 - de 0,21%, 0,21% e 0,08%, respectivamente -, porque o atual recuo do indicador está apoiado, principalmente, na retração de alimentos in natura, itens muito voláteis.

Nesta divulgação, a deflação de 0,89% no grupo alimentação foi puxada por uma retração de 3,3% no item hortaliças e legumes. O economista também ressalta que a virada do semestre é marcada pelos reajustes de tarifas públicas, que devem ser mais pesados neste ano, já que o acumulado do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), encerrou 2010 acima de 10%. Além disso, o setor de serviços, diz Picchetti, continuará a ser pressionado pelos dissídios, concentrados no meio do ano.

As quedas verificadas nos itens em alimentos e transportes - principais responsáveis pela deflação do IPC-S em junho - estão próximas de chegarem a seus limites, pondera José Góes, analista econômico da WinTrade. "Boa parte do benefício será apurada no fim do mês e no começo de junho. Depois, não teremos mais muitas surpresas", diz o analista.

A Tendências Consultoria projeta que o IPC-S encerrará o mês com queda de 0,11%, mas considera que as taxas voltarão a ser positivas em julho, com elevação maior ainda em agosto. "A parte de alimentos, especificamente no IPC-S, vai começar a ter queda menos intensa. Os combustíveis ainda têm espaço para recuar por causa da gasolina, mas estão muito próximos do piso da queda", avalia o analista Thiago Curado.

Outros economistas, entretanto, preveem taxas "ligeiramente positivas" para os preços de combustíveis já a partir de julho. "A ideia é que, daqui duas a três semanas, os preços na bomba já vão parar de cair", projeta Elson Teles, economista-chefe da Máxima Asset Manegement. "Isso é uma bela diferença em relação à contribuição que eles têm dado nos últimos indicadores". Teles acredita que o IPC-S deve fechar junho com taxa negativa entre 0,15 e 0,2%, para voltar a se acelerar em julho.

Na terceira prévia do IPC-S, o álcool combustível teve variação negativa de 12,86%, após deflação de 15,31% na semana anterior. A gasolina teve deflação de 3,89%, após queda de 2,97% na segunda semana do mês. Os dois recuos foram responsáveis por puxar para baixo o item transportes, que teve retração de 1,32%.