Título: Canadá quer fortalecer comércio com o Brasil
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2011, Brasil, p. A5

Relações externas: Comitiva de 30 empresas está no país avaliando negócios ligados à Copa, Olimpíada e PAC

Do Rio O Canadá tem interesse em fortalecer a parceria com o Brasil nas áreas de comércio e investimento. A decisão do governo canadense de incluir o Brasil na lista de países prioritários em termos de política comercial se dá após o reconhecimento de que, por anos, o mercado brasileiro talvez não tenha recebido a devida a atenção por parte do Canadá. A situação começa a mudar a partir da orientação do primeiro-ministro Stephen Harper, reeleito em maio. "O primeiro-ministro pediu que eu focasse em um número de países-chave e o Brasil é um deles", disse ao Valor o ministro do Comércio Internacional do Canadá, Ed Fast. Ele está no Brasil liderando uma comitiva com cerca de 30 empresas canadenses da área de infraestrutura, interessadas em buscar oportunidades de negócios em projetos ligados à Copa, à Olimpíada e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Fast disse que o Canadá organizou três Olimpíadas, entre jogos de inverno e verão (Montreal, 1976, Calgary, 1988, e Vancouver, 2010), e as obras foram entregues dentro do prazo. Ele também destacou que, ao longo dos anos, o Canadá provou que tem capacidade de entregar, pelo mundo, diferentes soluções de infraestrutura.

Antes de desembarcar no Rio, Fast cumpriu agenda no Paraguai, país que ocupa atualmente a presidência do Mercosul. Em Assunção, anunciou que o Canadá e os países do Mercosul estão avançando em discussões, ainda em estágio inicial, para fortalecer a relação comercial.

Para Fast, as discussões são a primeira etapa para identificar se, em um segundo momento, será possível negociar um acordo de livre comércio e para identificar como se pode aumentar a relação comercial. O ministro avaliou que o comércio e o investimento entre os dois países ainda são modestos. "Estamos arranhando a superfície do potencial existente entre os dois países em termos de comércio e investimentos."

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, o comércio Brasil-Canadá totalizou US$ 5 bilhões em 2010, entre exportações e importações, o equivalente a 0,86% do comércio exterior brasileiro no período. Na área de investimentos, o Brasil vem se posicionando, desde 2006, como um dos principais investidores estrangeiros no Canadá, embora em 2010 o país tenha sido superado pela China.

A compra da Inco pela Vale, em 2006, foi um marco do investimento direto brasileiro no Canadá. Segundo o ministro canadense, o negócio Vale-Inco é um exemplo de como os países podem aumentar investimentos, levando-os a novo patamar. Fast considerou superado o contencioso Embraer- Bombardier, que opôs os dois países, e disse que Brasil e Canadá, além da competição saudável, podem atingir grau de parceria mais alto.

Fast afirmou que o crescimento do comércio e dos investimentos entre Canadá e Brasil passa por aumentar a "conscientização" do potencial da economia de um país no outro e vice-versa. O ministro disse que quer explicar ao setor empresarial canadense que há muito potencial de negócios no Brasil.

Hoje, Fast estará em Brasília para reuniões com o secretário-geral do Itamaraty, Ruy Nogueira, e com os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Fonte do governo que acompanha as discussões entre o Mercosul e o Canadá disse que o diálogo exploratório busca avaliar até que ponto pode se chegar a negociar o livre comércio. O Canadá já negocia acordos de livre comércio com União Europeia, Índia e Coreia do Sul.

Segundo a fonte, o Brasil poderia vir a discutir investimentos em um acordo com os canadenses, sem entrar em definição de regras que viessem a limitar a capacidade regulatória do governo. No passado recente, o Brasil resistiu a negociar acordos que pudessem reduzir sua capacidade de fazer política industrial.