Título: Insatisfeitos, PP, PR e PTB avaliam formação de bloco parlamentar
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2011, Política, p. A8

De Brasília

Os três partidos da direita há mais tempo ao lado do PT no governo federal - PP, PR e PTB - avaliam que a crise política ainda não se dissipou com as substituições na coordenação política e tende a se agravar no segundo semestre se as reivindicações dos aliados não forem atendidas. Chegam até mesmo a sugerir, para amenizá-la, que a presidente Dilma Rousseff anuncie não ter interesse em concorrer à reeleição.

Avaliam ainda que petistas e pemedebistas concentram a agenda política do Palácio do Planalto, motivo por que articulam a possibilidade de criação de um bloco parlamentar com os três partidos, que os tornaria o maior grupo na Câmara dos Deputados.

"A presidente deveria vir a público e dizer que não é candidata em 2014, que não vai fazer o jogo da reeleição, o toma-lá-dá-cá. Aí a conversa muda. Ela retira de si a pressão política e conquista o apoio da opinião pública para enfrentar esses interesses menores", afirmou o presidente do PTB, Roberto Jefferson. Para ele, Dilma não gosta, não sabe e não quer aprender a lidar com a pequena política, o que a fará ter problemas durante todo o mandato. "Do jeito que está aí, vai para um impasse total o governo. Tudo o que ela pedir para votar vai ficar pela metade. E ela não terá apoio político para vir em 2014", disse. Em sua opinião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já é o candidato do PT à sucessão. "E é fortíssimo. Aécio que comece logo a se preparar", completa.

A presença de Lula nos bastidores da articulação política em Brasília e, principalmente, no PT, é vista como necessária pelos integrantes dos três partidos. Primeiro porque, segundo eles, a nova coordenação política do governo carece da habilidade necessária para as negociações. "Lula é uma pessoa que precisa ser ouvida sempre. Qual o problema em ouvir o Lula? A presidente não perde autoridade com isso. Só perde autoridade quem não tem autoridade, o que não é o caso dela", disse o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ). Nos partidos, começam a chegar reclamações contra a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), por não atender telefonemas nem retornar ligações, o que faz com que seus integrantes já pensem em elaborar uma reclamação oficial a Dilma.

A atuação de Lula é tida como importante porque essas legendas veem perigo na atuação do PT. Acreditam que o ex-ministro Antonio Palocci caiu após denúncias vazadas por petistas, que agora escolheram o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) como alvo.

"De certa maneira o PT também faz papel de oposição. Por exemplo, a gente ouve que o governo é contra a PEC 300 e a Emenda 29, mas aqui são os petistas que falam em votar as duas propostas. Existe uma falta de coordenação das ações da Câmara com o Executivo", disse o presidente do PR-RJ, deputado Anthony Garotinho. Ele alerta, contudo, que há risco de Dilma futuramente se rebelar contra a onipresença do ex-presidente. "É difícil ter um sujeito oculto no governo. A médio prazo isso pode trazer problemas."

Com o acesso difícil e vendo a agenda política concentrada nos dois maiores aliados, PT e PMDB, os três partidos médios já iniciaram conversas para formar o bloco que incluiria também PRB, PTdoB, PRTB, PRP, PHS, PTC e PSL. Juntos, somariam um quarto da Câmara, com 126 deputados.

"Os dois partidos [PT e PMDB] é que ficam exigindo mais. Queremos também o nosso espaço, se não volta o grupo PP, PR e PTB. Mas isso é uma hipótese. A base tem esperança de que as coisas comecem a acontecer e o governo dê um sinal até o recesso", diz o líder do PP na Câmara, Nelson Meurer (PR).

O deputado cita os três "sinais" que a base aguarda do Planalto: liberação de pelo menos metade das emendas antes do recesso parlamentar, prorrogação do prazo do decreto do restos a pagar e nomeações do segundo e terceiro escalões. "A expectativa é de que melhore, caso contrário não conseguiremos segurar a base nas votações e teremos de tomar posições para forçar os partidos a serem atendidos."

O líder do PR, Lincoln Portela (MG), vai na mesma linha e pede o atendimento das reivindicações. "O governo não consegue chegar na ponta da população sem as emendas. Tem que ser sensível a isso. Política se faz dessa forma. O atendimento aos prefeitos tem que chegar, se não a gente perde a base. E se a gente perde a base, para que ficar na base?"