Título: Com apoio do BNDES, Diniz afaga Carrefour
Autor: Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2011, EU & Investimentos, p. D1

De São Paulo

Um grande negócio foi anunciado ontem em São Paulo: a combinação entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil. A operação, contudo, ainda não passa de uma grande ideia, com R$ 5,75 bilhões disponíveis na mesa, oferecidos pela BNDESPar (68%) e pelo BTG Pactual (32%), ainda que o negócio não envolva dinheiro, apenas troca de ações.

Por enquanto, trata-se apenas de uma proposta que precisa ser aprovada por todos os envolvidos - Carrefour e seus acionistas e Pão de Açúcar e seus controladores, família Diniz e grupo Casino. A proposta tem validade de 60 dias.

Como o negócio foi desenhado por Abilio Diniz e um grupo de acionistas do Carrefour liderado pela Blue Capital, a sua concretização está nas mãos do Casino, que vem publicamente mostrando seu descontentamento pelas negociações há cerca de um mês - tendo, inclusive, iniciado um processo de arbitragem contra Diniz.

A operação pretendida colocaria as rivais francesas Carrefour e Casino como acionistas do grupo Pão de Açúcar, junto dos Diniz. Além disso, os atuais acionistas da varejista brasileira se tornariam o maior sócio individual do Carrefour na França, com no mínimo 11,7% e no máximo 18% do capital.

O poder de sim ou não está todo com o Casino. O rede que controla o Pão de Açúcar com a família Diniz recebeu a proposta na madrugada de ontem, quase junto com a divulgação ao público, o que mais uma vez deixou-a indignada.

Agora, recai sobre o grupo francês a pressão de aceitar ou recusar uma operação capaz de gerar sinergias estimadas de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,8 bilhão e que tem R$ 3,9 bilhões de aval do banco de fomento estatal, o BNDES, em tempos de capital escasso no Hemisfério Norte.

No negócio proposto, a BNDESPar se tornaria acionista do que seria o Novo Pão de Açúcar (NPA), com 18%. O BTG colocaria outros R$ 690 milhões e receberia 3,2% das ações. Além do aporte, o banco de investimentos ainda emprestaria R$ 1,15 bilhão à empresa.

O argumento para o dinheiro novo é "preparar a empresa para novos desafios". E o apelo político é a criação de um grupo de varejo com atuação nacional e internacional. Ainda que, ao final, os franceses - Carrefour e Casino - devam ficar com 65% do capital da empresa operacional.

Há grande expectativa de que o Casino diga não à proposta. Resta saber se as características da operação serão suficientes para seduzir o sócio francês ou se alguns termos poderão ser revisados.