Título: Salários em alta elevam custos no setor de serviços e pressionam IPCA
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2011, Brasil, p. A3

De Brasília

Os preços dos serviços, pressionados pelos aumentos do salário mínimo e pela escassez de mão de obra nesse setor da economia, têm sido um dos principais fatores de aumento da inflação nos últimos anos. A conclusão é do Banco Central (BC) e consta de um dos boxes do Relatório de Inflação.

O BC analisou as pressões de custos do setor de serviços, observando a evolução dos índices de produtividade e dos salários reais. No estudo, foram avaliados os serviços prestados às empresas, saúde e educação privadas, serviços às famílias e associativos, alojamento e alimentação, manutenção e reparação e serviços domésticos.

Esse conjunto de serviços corresponde a 23,7% da cesta do IPCA. Foram excluídos da análise os serviços administrados por contrato, como os transportes públicos, e aqueles em que os salários têm pouca relevância na composição dos custos, como aluguéis.

O estudo constatou que, nos últimos quatro anos, houve um descolamento entre salários reais e produtividade. Tomando 2007 como base, o índice do salário real chegou a 117,6 no primeiro trimestre deste ano, 13,1 pontos percentuais acima do índice de produtividade no fim de março.

"Esse afastamento, que pode ser atribuído a um ambiente em que prevalece certa rigidez de oferta [de mão de obra], está associado essencialmente à evolução dos salários reais no segmento [de serviços]", diz o relatório. Segundo o BC, depois de registrar relativa estabilidade entre 2003 e 2006, os salários reais tiveram correções semelhantes às do salário mínimo entre 2009 e 2011.

"Os indicadores de pressões de custo sugerem, no período considerado, ganhos de produtividade inferiores aos aumentos reais de salário, o que, em parte, seria explicado pela vinculação dos salários do setor ao salário mínimo, que, em termos reais, aumentou 76,5% no período amostral [entre 2003 e 2010]", explicou o documento.

Do ponto de vista da demanda, o BC comparou a oferta de serviços considerados na cesta do IPCA e a demanda potencial por esses serviços. A conclusão é que, entre o quarto trimestre de 2007 e o quarto trimestre de 2010, a oferta cresceu à taxa média de 0,8% por trimestre. A demanda potencial avançou 2,5% em média no período. "Quanto maior a renda, maior o peso do setor de serviços na cesta de consumo. Considerando a mobilidade das famílias nos últimos anos, isso sugere que houve aumento na demanda por serviços na economia", disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.