Título: Deflação em junho foi evento pontual, avalia FGV
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2011, Brasil, p. A3

De São Paulo

O movimento de queda de preços registrado em junho pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) não deverá se repetir ao longo do segundo semestre. Essa é a avaliação da Fundação Getulio Vargas, responsável pelo indicador, que vê na deflação de 0,18% deste mês um evento pontual."Os principais fatores que levaram a esse resultado são temporários. Daqui um ou dois meses deveremos ter inflação de novo, porém em faixas mais moderadas que as vistas na segunda metade de 2010", afirma o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. Desde dezembro de 2009 que o IGP-M não registrava variação negativa.

Neste mês, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), um dos três indicadores que compõem o IGP-M, foi o principal personagem da queda de preços. Apesar de contribuir com apenas 30% do IGP-M, o indicador apresentou uma retração acentuada, passando de 0,90% em maio para -0,12% em junho. No mesmo período, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do IGP-M, variou de 0,03% para -0,45%.

Alimentos e transportes, principalmente combustíveis, foram os itens que puxaram a deflação, com quedas de 0,81% e 1,34%, respectivamente. "O preço do etanol recuou muito com a nova safra, mas já há sinais de alta. Nas últimas duas semanas, já percebemos reajustes nas usinas", conta Quadros.

Em maio, o álcool hidratado caiu 13,34%, enquanto em junho a retração desacelerou para 9,96%. "A diminuição no ritmo de queda em plena safra mostra como a demanda está forte. Com o crescimento da frota de carros flex, não está sendo possível repor adequadamente os estoques", comenta o coordenador de Análises Econômicas da FGV.

Nos últimos 12 meses, o álcool hidratado subiu 37,29%, enquanto o álcool anidro (misturado à gasolina) teve alta de 58,97%.

Já em relação às commodities agrícolas, Quadros estima que mesmo apresentando variações positivas, os reajustes de preços não deverão ser tão intensos como no ano passado. "A demanda da China e fatores climáticos não devem permitir que os preços se acalmem, mas não esperamos uma alta como a de 2010."

O maior risco para a inflação, em sua avaliação, vem do setor de serviços, que registrou aumento de 0,44% em junho e acumula alta de 6,34% em 12 meses. "A inflação de 12 meses em serviços vem acelerando e não vemos nenhuma alteração nesse cenário nos próximos meses", cometa Quadros, acrescentando que o reajuste no salário mínimo em 2012 deverá pressionar ainda mais os preços. Isso porque além de representar um aumento de custos para o setor, significa crescimento de renda para a população, que poderá demandar ainda mais serviços. "As quedas em outros segmentos encobriram o aumento em serviços, que segue sendo um ponto de atenção."