Título: Apoio a Lagarde no FMI foi definido por Mantega
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2011, Finanças, p. C12

De Washington

O apoio brasileiro à francesa Christine Lagarde, eleita anteontem nova diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), foi uma escolha pessoal do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o representante brasileiro no FMI, Paulo Nogueira Batista Jr., preferiam o mexicano Agustín Carstens, segundo fontes do governo ouvidas pelo Valor.

Pesou no voto brasileiro a aproximação de Lagarde com Mantega nas reuniões de ministros do G-20, sobretudo no encontro de abril em Washington, e o fato de que os países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, Brasil e África do Sul) não encontraram um candidato de consenso.

Tombini e Nogueira Batista defendiam o apoio ao mexicano porque ele se comprometeu de forma clara e integral com a agenda de reivindicações brasileiras, enquanto que Lagarde fez apenas indicações vagas de alinhamento com os interesses dos países emergentes.

O voto na francesa, definido na última hora, deixou o Brasil isolado em relação aos demais países da América Latina, que de forma geral apoiaram o mexicano. Também expôs divisões dentro da própria cadeira liderada pelo Brasil. O segundo país com maior peso do grupo, a Colômbia, havia declarado publicamente apoio a Agustín Carstens. A presidente Dilma Rousseff não se envolveu diretamente no processo, embora tenha indicado que preferia um alinhamento brasileiro aos demais países da região

O México, porém, não estava numa posição muito confortável para reivindicar coesão da América Latina. No fim de semana, o país havia votado no espanhol Miguel Angel Moratinos para o cargo de diretor geral da FAO (organização das Nações Unidas para agricultura e alimentos) em vez de apoiar o brasileiro José Graziano da Silva, que acabou vencendo a disputa.

Ao apoiar Lagarde, o Brasil também se distanciou de Canadá e Austrália, dois países desenvolvidos que reivindicam o fim do monopólio europeu no comando do FMI - e que declararam apoio a Carstens. Às vésperas da eleição que definiu o comando do Fundo, Carstens tinha o apoio declarado de países que representavam cerca de 12% dos votos no organismo. Durante a reunião anteontem que selou a escolha da nova diretora-gerente do FMI, todos os países, inclusive o México, acabaram apoiando a decisão consensual de eleger Lagarde.

Uma fonte do governo afirma que, na decisão de Mantega, pesou o pragmatismo - já que Lagarde tinha a maioria, e os países emergentes não conseguiram se unir em torno de um candidato alternativo, o melhor era mesmo apoiá-la em troca de compromissos para tornar o FMI mais representativo das economias emergentes.

Mas Lagarde não subscreveu explicitamente todos o pontos que o Brasil considera importantes, como a adoção de uma nova fórmula de cálculo para as cotas do Fundo. A nova chefe do FMI, por exemplo, vinha defendendo dentro das reuniões do G-20 que seja adotada uma espécie de código de conduta para os controles de capitais, iniciativa que não tem apoio do Brasil. Na carta de defesa de sua candidatura entregue ao FMI, porém, Lagarde apenas cita o tema, sem definir posição.

Com a eleição de Lagarde, agora as negociações são para definir o segundo cargo do FMI, hoje ocupado por John Lipsky, que tradicionalmente fica com os Estados Unidos. Lipsky já comunicou que deixa a instituição em agosto, quando termina o seu mandato, e a tendência é que outro americano seja eleito.

Pelo menos em público, o governo do presidente Barack Obama manteve-se distante do processo de escolha do chefe do FMI, procurando sinalizar neutralidade. Mas, como os europeus venceram, a tendência é os americanos reivindicarem a manutenção de seu espaço - ou seja, a presidência do Banco Mundial e o segundo cargo no FMI. O Congresso americano tem pressionado o governo para manter o poder nos organismos de Bretton Woods.