Título: Ordem do governo agora é redobrar a cautela com uso de dinheiro público
Autor: Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2011, EU & Investimentos, p. D1

De Brasília

O governo ficou preocupado com a repercussão negativa do anúncio da fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour Brasil. Na avaliação do Palácio do Planalto, prevaleceu a ideia de que o governo está se intrometendo num negócio privado e, por isso, a ordem agora é "redobrar a cautela" quanto à provável participação da BNDESPar, empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no negócio.

Não houve recuo em relação ao apoio do banco estatal à operação, o caso será analisado, mas o plano, daqui em diante, é desfazer a imagem de que o principal ator da transação é o BNDES. "A ideia de que o governo está trabalhando para viabilizar um negócio que é privado incomoda o Palácio do Planalto", informou um assessor graduado.

Quando foi informada da fusão e da participação da BNDESPar, a presidente Dilma Rousseff ordenou cautela, mas deu autonomia ao banco para conduzir as conversas. Agora, quer que o banco se pronuncie apenas depois que os sócios privados se entenderem. "O governo não quer protagonismo nesse processo", assegurou uma fonte.

A cúpula do governo ficou igualmente preocupada com a reação negativa do Casino, sócio francês do Pão de Açúcar que teria o direito de assumir, em 2012, o controle da rede de supermercados brasileira. O fato acendeu a "luz amarela" no Palácio do Planalto, levando o governo a se sentir "desconfortável" com o apoio a um negócio que ainda não está fechado entre os sócios privados.

"Primeiro, eles [Pão de Açúcar e Casino] têm que chegar a um acordo. Depois, o BNDES analisa o negócio", disse uma fonte. Há ceticismo também no governo quanto à aprovação da fusão pelo Casino. O grupo francês, sócio do Pão de Açúcar desde 1999, tem direito de veto. "A visão aqui hoje da fusão é pessimista", comentou um auxiliar da Presidência da República.