Título: Jornais franceses destacam guerra
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2011, EU &/S.A., p. D4

Para o Valor, de Paris

A proposta de fusão entre o grupo Pão de Açúcar e o Carrefour, anunciada na terça-feira, vem tendo amplo destaque na imprensa francesa. O assunto com maior repercussão é certamente a "guerra declarada" entre o Carrefour e o também francês Casino, sócio da varejista brasileira.

Outros temas também têm tido bastante espaço: o gigantesco potencial do mercado brasileiro, que seria um "eldorado para supermercados", o "divórcio" entre Casino e o empresário Abilio Diniz, além do "motor de crescimento" que a fusão representaria para o Carrefour, atualmente com problemas de perda de velocidade na França.

"Casino se reforça no Brasil para revidar o Carrefour", escreve o "Le Figaro" sobre a decisão do Casino de aumentar sua participação no capital do Pão de Açúcar de 37% para 43,1% no dia seguinte ao anúncio do projeto de fusão.

"A batalha Carrefour-Casino no Brasil promete ser longa e incerta", diz o jornal "Le Monde". A publicação afirma que Jean-Charles Naouri, presidente do Casino (e também principal acionista e controlador), famoso por sua combatividade, está sendo apoiado por um batalhão de advogados e bancos para "explorar outras vias judiciais", além do processo de arbitragem na Câmara Internacional de Comércio de Paris, iniciado no fim de maio, quando o negócio era ainda apenas um rumor.

Para o "Le Figaro", "além da guerra entre Casino e Carrefour", a proposta de fusão "é uma revanche" para Diniz. O jornal afirma que o empresário brasileiro sonhava em obter uma fatia no capital do grupo Casino e de participar do desenvolvimento da empresa fora do Brasil, sobretudo na América do Sul e em Portugal, em razão de suas origens familiares. "Ambos os pedidos foram recusados por Naouri", diz o "Le Figaro".

A imprensa francesa afirma ainda que a batalha "homérica" entre Casino e Carrefour está à altura do potencial do mercado brasileiro de varejo, o terceiro maior do mundo.

Com vendas praticamente estagnadas na França ou com fraco crescimento, são apenas nos mercados emergentes, sobretudo o brasileiro, que desempenhos excepcionais podem ser realizados atualmente pelas varejistas francesas.

Isso ainda é mais válido no caso do Carrefour, que, além de problemas em relação ao desempenho de seus hipermercados na Europa, ainda enfrenta problemas internos, que levaram à saída de alguns diretores recentemente.

"A associação com o grupo Pão de Açúcar consolidaria a posição do Carrefour no mercado brasileiro, um polo de desenvolvimento no momento em que a performance do Carrefour na França está sendo corroída por um resultado operacional em queda de 35% no primeiro semestre", diz o jornal econômico "Les Echos".

O diário afirma ainda que a entrada da varejista brasileira no capital do Carrefour poderia ser um "tema sensível na França" no plano político, já que o Carrefour é o maior empregador privado do país, com 140 mil funcionários. Além disso, o negócio prevê a venda de produtos agroindustriais brasileiros nos mercados onde o Carrefour atua, "o que pode preocupar as autoridades francesas", escreve o "Les Echos".

Por enquanto, o governo francês não comentou o projeto de fusão. E talvez nem se pronuncie a respeito, já que o setor não envolve áreas estratégicas no país, como a aeronáutica ou a indústria da defesa ou automobilística. E talvez também porque as vantagens para o Carrefour, uma das maiores empresas do país, cotada no índice CAC 40 da bolsa parisiense, seriam bastante consideráveis.