Título: Saída é ampliar poupança doméstica, diz economista
Autor: Villaverde, João ; Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2011, Brasil, p. A3

De São Paulo

Quando, por algum motivo, o entusiasmo do mercado financeiro mundial com a economia brasileira mudar de rumo, o movimento de fuga de capitais em manada será veloz. Nesse momento, cobrir o déficit em transações correntes do país passará a ser uma missão muito mais complexa do que é hoje. Essa é a avaliação do economista Nelson Marconi, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). O déficit atual, em torno de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), "parece inofensivo, porque o capital estrangeiro está entrando, mas como ficará quando o humor externo mudar?", diz.Segundo Marconi, o déficit em transações correntes do país está "preso em uma trajetória altista", uma vez que é impulsionado pela demanda interna aquecida e pelo câmbio valorizado, dois fatores que, combinados, ampliam a entrada de produtos importados no país. "O saldo comercial está de pé, ainda, devido à forte elevação dos preços das commodities", afirma Marconi. Além disso, a entrada de recursos externos em forma de aplicações financeiras e investimento direto tem facilitado a cobertura do déficit.

"Já vivemos isso", afirma o economista, em referência à última crise originada pelo elevado rombo nas transações correntes do país - entre o fim de 1998 e o início de 1999. "Tínhamos, à época, o mais elevado patamar de reservas internacionais acumulado pelo Banco Central na nossa história (US$ 74 bilhões) e todos os recursos foram queimados em poucos meses para equilibrar a saída repentina do capital estrangeiro, que até então era dado como garantido", diz Marconi.

À época, o déficit nas transações correntes variava em torno de 4% do Produto Interno Bruto. As reservas internacionais, hoje, são de US$ 335 bilhões.

Para Marconi, a elevação das taxas de juros vai no sentido contrário da redução do déficit corrente. Segundo o economista, a saída seria a ampliação da poupança doméstica, para que seja capaz de financiar os investimentos no país, evitando o uso de recursos externos.

"Poupança surge quando há aumento da renda, e renda surge quando se embolsa os resultados dos investimentos realizados. Mas como impulsionar os investimentos com uma taxa de juros alta e em elevação?", pergunta o economista, que avalia como "central" o papel do setor público. "A saída, no curto prazo, seria um ajuste fiscal potente, com a redução dos gastos públicos, que acabariam abrindo espaço para os investimentos privados." (JV)