Título: Partido aproxima-se de Fruet para reforçar Gleisi em 2014
Autor: Marques*, Luiz Felipe
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2011, Política, p. A10
De São Paulo e Curitiba
O Paraná é o Estado do Sul em que a nova configuração do núcleo político da Presidência deve ter o maior impacto.
Com a entrada de Gleisi Hoffmann na Casa Civil, as ambições do PT no Estado aumentaram significativamente tanto pela força política adquirida pela nova ministra quanto pela intenção já consolidada de lançá-la ao governo do Paraná em 2014.
As duas primeiras - e até agora únicas - entrevistas exclusivas concedidas por Gleisi depois de sua posse na Casa Civil foram para o jornal de Curitiba, "Gazeta do Povo" e para a RPC TV, afiliada da Globo no Paraná.
Para preparar o terreno no Estado, o partido planeja lançar candidatos próprios às prefeituras das principais cidades. Na capital, os nomes que já se colocam são os do deputado federal Dr. Rosinha e o do deputado estadual Tadeu Veneri.
A chance de uma eleição petista em Curitiba, no entanto, ainda é pouco provável. De acordo com o próprio Dr. Rosinha, a intenção seria a de diminuir as chances de reeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB), que herdou o cargo do atual governador Beto Richa (PSDB). "Em um primeiro momento, evitaríamos uma eleição plebiscitária do Ducci, e, levando para o segundo turno, ele poderia ser derrotado, mesmo que não fosse pelo nosso partido", afirma o deputado.
A estratégia de levar a eleição municipal para o segundo turno em Curitiba conta com um fator decisivo: a possível candidatura do ex-deputado federal, Gustavo Fruet (PSDB). Ele mantém a intenção de ser prefeito na capital, encontra pouco apoio do seu partido e pode deixá-lo.
"Toda vez que pergunto ao Richa o porquê da resistência às minhas pretensões eleitorais, o que vem é um silêncio constrangedor", disse Fruet, em conversa com o Valor na semana passada.
O ex-deputado criticou diversas vezes os rumos que os tucanos estão tomando no Paraná. Na opinião dele, "enquanto os outros partidos se movimentam e começam a definir e cooptar nomes, o PSDB está engessado".
Dada a insatisfação com o partido atual e a possibilidade de uma boa votação em 2012, Fruet já desperta o interesse de diversos partidos. Uma pesquisa feita em maio pelo Ibope a pedido da rádio CBN de Curitiba aponta o ex-deputado como o principal candidato à prefeitura da cidade, 11 pontos percentuais à frente do atual prefeito Luciano Ducci.
A legenda mais cotada para receber Fruet é o PDT, presidido no Paraná pelo ex-senador Osmar Dias. Na semana passada, os dois jantaram na casa do pedetista, que reiterou o convite de filiação e de candidatura ao ex-deputado. O PMDB também demonstrou interesse. Cortejado, Fruet voltou a receber atenção de seu partido. De acordo com Dias, a resposta do ex-deputado pode ser ainda este mês.
Já sobre a situação do PT no estado, Fruet aponta que a sigla se "fortalece muito" com Gleisi na Casa Civil. "Ela está num cargo alto e não fica no meio do vespeiro, podendo dar uma força importante ao partido", diz. Parte do PT também vê Fruet com bons olhos e aceitaria apoiá-lo num eventual segundo turno contra Ducci.
Para a cientista política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Luciana Veiga, a ideia do PT é eficaz. Com boas eleições em todo o estado, a sigla poderia se apresentar como alternativa viável à dupla PSDB/DEM, que governa o Paraná há anos. "Se o PT conseguir aumentar sua estrutura partidária, com uma boa eleição de prefeitos e vereadores no Estado, ele fortalece sua marca e sua plataforma. Isso não garante uma vitória da Gleisi em 2014, mas, somado ao cargo que ela mantém na Casa Civil, já pode significar uma ameaça a Beto Richa", diz a cientista.
É justamente essa a ideia de Ênio Verri. "Não se faz um planejamento estratégico olhando apenas uma eleição. Nossa campanha para 2012 já é pensando no pleito de 2014", afirma o deputado.
A ameaça latente que Gleisi pode representar para sua reeleição não impediu que Richa prestigiasse a posse da ministra. "Minha presença aqui, na posse da Gleisi, é um gesto para que possamos acabar com a politicagem, com essa visão míope, curta, de que sempre é necessário derrubar um adversário que está crescendo. O momento é de trabalhar em favor do Estado", disse Richa ao Valor na ocasião.
Com candidaturas próprias e coligações representativas, o PT espera conseguir uma boa eleição de vereadores. De acordo com o presidente do partido no Estado, o deputado estadual Ênio Verri, a intenção é passar dos 289 atuais para 400 vereadores paranaenses em 2012. Já o número de prefeitos poderia partir dos 32 para 50. As duas expectativas são vistas por Verri como "realistas, sem nenhuma dose de otimismo". Entre as principais cidades que o PT pretende conquistar estão Foz do Iguaçu, Maringá e Londrina.