Título: Flerte de PV e PT pode dar namoro
Autor: Sassine, Vinicius; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 24/08/2010, Política, p. 7

Com o cenário apontando para vitória da petista Dilma Rousseff no primeiro turno, partido de Marina Silva já ensaia aproximação

A campanha de Marina Silva (PV) à Presidência tem as estratégias traçadas para um pleito decidido em primeiro turno ou, caso se contrariem as pesquisas, para um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). O núcleo político da candidatura verde já pavimenta o caminho para apoiar a presidenciável petista e quer que Marina continue indo para cima de Serra, com o objetivo de retirar votos do tucano, em queda contínua nos levantamentos de intenção de voto. A candidata do PV já tem feito mais ataques ao rival do que no início da campanha e, se houver segundo turno, Marina seguirá com Dilma, como manifestou a aliados.

As últimas pesquisas mostram que Dilma Rousseff ampliou a dianteira na corrida eleitoral, com chances reais de vencer a disputa no primeiro turno, em 3 de outubro. O levantamento mais recente do instituto Datafolha mostra Dilma com 47% das intenções de voto, Serra com 30% e Marina com 9%. Essa é a proporção de votos que Marina alcança desde o início da disputa eleitoral. A novidade é a queda expressiva de Serra e a possibilidade de vitória de Dilma no primeiro round.

O entendimento da coordenação da campanha de Marina é de que Serra não tem condições de vencer Dilma. Seria a chance de a candidata verde ampliar o número de eleitores em cima dos que anseiam votar em Serra, mas já não acreditariam na sua vitória.

Mesmo com o massacre do horário eleitoral, Marina se mantém. Ela é uma figura carismática e tem forte possibilidade de expansão, afirma Alfredo Sirkis, presidente do PV no Rio de Janeiro e um dos coordenadores da campanha. Como Dilma abriu 17 pontos, a gente espera uma janela de oportunidades para Marina. A campanha do Serra tem muitos problemas. Segundo Sirkis, Marina não deve partir para o ataque. Mas se colocará inclusive na propaganda eleitoral, que pode ser mudada como alguém que está dentro do jogo.

Se a disputa seguir para o segundo turno e, confirmado o favoritismo de Dilma e Serra, o PT já tem escalados companheiros históricos de Marina para fazer a ponte dela com a candidata petista. Os responsáveis são os irmãos acrianos Tião Viana e Jorge Viana, candidatos pelo PT ao governo e ao Senado, respectivamente. Os embaixadores do PT no Acre estariam imbuídos nessa missão, afirma o suplente de Marina no Senado e candidato a deputado federal e ex-senador Sibá Machado (PT-AC).

No estado, em eventos políticos do PT, não raro os banners de Marina convivem com as faixas de Dilma dispostas no mesmo salão, conta Sibá. Segundo o ele, apesar de Marina se recusar a antecipar cenários de segundo turno nos discursos públicos, em conversas internas a ex-ministra do Meio Ambiente teria mostrado que superou as rusgas com Dilma e acenou pelo apoio ao PT em um possível segundo turno. Jorge Viana desconversa sobre possível assédio do PT ao PV de olho no segundo turno. Qualquer tentativa de alguém do PT falar com Marina seria um desrespeito com a candidatura dela, diz.

As coligações nos estados mostram que a disputa pelo PV ainda está aberta, mas a oposição leva discreta vantagem. São seis alianças de partidos da oposição dividindo chapa com os verdes contra cinco do PT. Em outros 16 estados, o PV se aliou a outros partidos ou ficou sozinho. O PV é complexo. Existem pelo menos três alas dentro do partido, diz Jorge Viana.

MARINA QUER VIRAR O JOGO Dilma Rousseff (PT) canta vitória e José Serra (PSDB) entrega os pontos. É o que Marina Silva disse ontem, sem citar os nomes dos oponentes. A candidata do PV disse que vira o jogo até o dia da eleição, em 3 de outubro, e que nada está decidido a 40 dias da votação. Chamo o eleitor para a gente virar o jogo e ir para o segundo turno, disse Marina, após uma caminhada pelo Mercado Municipal de São Paulo. Marina quer tirar proveito do fim da polarização da disputa presidencial, sinalizado nas pesquisas.

Mesmo com o massacre do horário eleitoral, Marina se mantém. Ela é uma figura carismática e tem forte possibilidade de expansão

Alfredo Sirkis, presidente do PV-RJ e um dos coordenadores da campanha de Marina Silva

Qualquer tentativa de alguém do PT falar com Marina seria um desrespeito com a candidatura dela

Jorge Viana, candidato ao Senado pelo PT do Acre