Título: Graziano é um dos favoritos para a FAO
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2011, Agronegócios, p. B12

De Paris

Depois de inúmeros encontros com outros ministros no G-20, em Paris, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, disse ontem "confiar ainda mais" na eleição do candidato brasileiro José Graziano da Silva à direção da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), no domingo.

Graziano é apontado na Europa como favorito junto com o candidato espanhol Miguel Moratinos. Há outros quatro candidatos, da Áustria, Indonésia, Iraque e Irã. Rossi acertou com seu colega da Indonésia de conversarem a cada turno da eleição, no domingo, mas não fecharam apoio recíproco.

Hoje, o governo brasileiro promove um seminário com presença de quatro ministros e um vice-ministro, em Roma, para países africanos e do Caribe. O tema é cooperação brasileira na agricultura dessas regiões. O voto dos africanos é essencial para o brasileiro ganhar.

Depois da crise alimentar de 2007-2008 e da explosão dos preços agrícolas em 2010-2011, a FAO se tornou uma peça-chave na governança global. A segurança alimentar está no centro da agenda. O que foi discutido no G-20 continuará na entidade.

Isso inclui um futuro Plano de Ação sobre Água e Segurança Alimentar que não prosperou ontem no G-20 agrícola e dificilmente será finalizado até a cúpula dos chefes de Estado e de governo em Cannes (França), em novembro. Analistas insistem que a insegurança alimentar e hídrica terá impacto direto sobre a segurança política em várias áreas do planeta.

O plano foi proposto pelos Emirados Árabes Unidos, que participam como presidente do Conselho de Cooperação dos Estados do Golfo, no ano passado. A ideia é que intervenção em água não tenha impacto sobre a disponibilidade de alimentos, evitando, assim, escassez de água que dificulte a agricultura nos vizinhos.

Na preparação do G-20 agrícola, a França convenceu bancos multilaterais e regionais de desenvolvimento a terem uma estratégia comum sobre segurança alimentar e água, replicando iniciativa de investimentos em infraestrutura.

Mas o Canadá atravancou o plano, insistindo não haver tempo para decisões na cúpula dos líderes em novembro. No ano que vem, o México, que assumirá a presidência do grupo, decidirá se leva adiante o plano de ação.

Os árabes têm pressa. Vários analistas notam que, enquanto a maioria dos conflitos provocados por alimentos e água é interna, a partir de agora podem se multiplicar os conflitos externos, sobretudo quando vários países compartilham recursos hídricos.

No mundo árabe, 60% da água tem fluxos através de fronteiras internacionais, complicando a gestão dos recursos. As dificuldades no abastecimento cresceram e reduzem o potencial para produção local de alimentos. A disponibilidade per capita de água poderá cair pela metade em 2050.

Projeções apontam que a dependência na importação de alimentos crescerá 64% nos próximos vinte anos. (AM)