Título: Cristina põe ministro da Economia na sua chapa
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2011, Internacional, p. A11
De Buenos Aires
Amado Boudou, o "ministro roqueiro", será o companheiro de chapa da presidente Cristina Kirchner em sua tentativa de reeleição na Argentina. Ele tem 47 anos e está à frente do Ministério da Economia desde julho de 2009. Nunca exerceu cargos eletivos. Fã do cantor argentino Andrés Calamaro, Boudou é guitarrista e faz apresentações esporádicas na noite portenha. A uma plateia de estudantes de mestrado, numa aula magna recente, ensinou à juventude: "Vocês têm que ser como eu. Trabalho o dia inteiro e ainda saio à noite".
Cristina destacou a "lealdade" do ministro, ao anunciá-lo no sábado, e disse que precisa de alguém do seu lado que "não tenha medo das grandes corporações". Boudou já deu provas disso. À frente da Administração Nacional de Seguridade Social (Anses), foi mentor da estatização dos fundos de pensão. A medida permitiu ao governo engordar os cofres públicos em mais de US$ 25 bilhões e transformar-se em acionista de 42 empresas que tinham participação dos fundos, incluindo subsidiárias das brasileiras Petrobras e Marfrig. No ano seguinte à medida, em julho de 2009, foi promovido a ministro da Economia.
Ao assumir o cargo, prometeu corrigir as distorções do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), o que nunca ocorreu. Ele conduziu a segunda reestruturação da dívida argentina em moratória e negocia um acordo do governo com o Clube de Paris. Teve papel importante na decisão da Casa Rosada de usar as reservas do Banco Central para pagar vencimentos da dívida externa. Isso gerou a saída do então presidente do BC, Martín Redrado, que se referiu da seguinte forma a Boudou, em um livro lançado meses depois: "Provavelmente seja o ministro com menor qualidade técnica que conheci, mas com grande capacidade de comunicação".
Boudou nunca chegou a gozar de plena confiança do ex-presidente Néstor Kirchner, que gostava de dar os rumos da economia argentina. Sempre foi tido como um dos ministros mais "cristinistas" do gabinete.
Sua aproximação com a presidente acentuou-se após a morte de Kirchner e ele defendeu ardentemente as medidas intervencionistas do governo, apesar de ter-se graduado como economista na Cema, uma das faculdades mais liberais e pró-mercado de Buenos Aires. Boudou desenvolveu laços de amizade com o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega. Se Cristina for reeleita, ele terá uma sala na Casa Rosada, mas assumirá automaticamente a presidência do Senado, com direito a votar apenas em caso de empate - o que ocorreu com o atual vice Julio Cobos, rompido com o kirchnerismo desde de 2008, quando deu o voto de minerva contra o aumento dos impostos às exportações de produtos agrícolas.
Boudou, acusado pela oposição de leniente com a escalada inflacionária, é contrário a qualquer esfriamento da economia. "Quando mais quente, melhor", responde. O candidato da União Cívica Radical (UCR) e segundo colocado nas intenções de voto, Ricardo Alfonsín, também escolheu um economista como companheiro de chapa para as eleições de 23 de outubro: Javier González Fraga, ex-presidente do BC durante o governo de Carlos Menem (1989-1999). (D.R.)