Título: Desequilíbrios nas contas externas estão aumentando
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2011, Finanças, p. C12

De Roma

Os desequilíbrios mundiais nas contas de transações correntes estão aumentando e podem causar um ajustamento desordenado das taxas de câmbio e uma onda de protecionismo. O alerta é do Banco Internacional de Compensações (BIS).

O banco central dos bancos centrais suspeita que "o Brasil é um dos países onde um fraco resultado nas (contas) correntes mascara importantes entradas e saídas brutas de capital". Ao abordar "assimetrias importantes", o banco exemplifica que no Brasil as entradas de Investimento Estrangeiro Direto (IED) são amplamente superiores às saídas - "são as reservas acumuladas e, em menor medida, os outros investimentos que equilibram as contas correntes". Na China, as saídas de capital são essencialmente constituídas de reservas e das entradas de IED.

Para o BIS, a interdependência financeira que existe entre a América Latina (com peso do Brasil) e os EUA, de US$ 201 bilhões, ou do centros financeiros do Caribe com a América Latina, de US$ 151,6 bilhões, tem pouco a ver com saldos exibidos nas contas correntes.

Os fluxos financeiros brutos "trazem talvez riscos ainda maiores ao favorecer eventuais assimetrias nos balanços (de pagamentos) e ao facilitar a transmissão de choques de um país para o outro", relata o BIS.

Os fluxos financeiros resultam da acumulação de posições importantes, interconectadas em nível mundial, por estabelecimentos financeiros, empresas e consumidores. As características próprias das entradas e saídas de capital se traduzem, no fim das contas, por assimetrias, de divisas (diferentes moedas) ou prazos, entre ativos e passivos, que podem se converter em desequilíbrios financeiros.

Os fluxos brutos têm as mesmas características que os fluxos líquidos: interrupção repentina e absorção ineficaz. O BIS acha que os controles de movimento de capital podem ser usados como último recurso e provisoriamente. Mas que, no longo prazo, o controle modifica principalmente a composição dos fluxos brutos, mais do que sua dimensão.

O BIS considera ainda que um reequilíbrio da demanda mundial se impõe para reduzir a situação atual. E para administrar os riscos provocados pelos fluxos brutos, é necessário manter políticas macroeconômicas sadias, aliadas a medidas prudenciais e de fortalecimento da infraestrutura financeira. (AM)