Título: Alta generalizada de juros será necessária para preservar estabilidade
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2011, Finanças, p. C12

De Roma

O crescimento econômico global deve diminuir para derrubar a inflação em torno do mundo. É o que sugere o Banco Internacional de Compensações (BIS) em seu relatório anual.

O banco insiste que a dívida continua a pesar duramente, o controle das finanças públicas apenas começou e que os desequilíbrios financeiros internacionais estão de volta. Para o banco central dos bancos centrais, políticas monetárias muito acomodadas vão rapidamente se tornar uma ameaça para a estabilidade de preços, enquanto as reformas financeiras seguem incompletas.

Para o BIS, somente um aperto monetário em escala mundial permitirá conter as pressões inflacionárias e afastar os riscos para a estabilidade financeira.

As autoridades monetárias estão incertas quanto ao grau de subutilização da capacidade produtiva, o que lembra a situação dos anos 1970, ainda que o contexto econômico seja diferente.

As taxas de juros continuam em níveis historicamente baixos, o que não deixa de ser um risco para a estabilidade dos preços e do sistema financeiro.

O BIS alerta que a persistência dessa situação nas economias desenvolvidas retarda "o ajuste indispensável" dos balanços das famílias e bancos, e aumenta o risco de ressurgirem distorções.

Os riscos de inflação aumentaram globalmente, pela conjunção de redução nas capacidades não utilizadas e no encarecimento dos alimentos, energia e outros produtos básicos.

O BIS nota que nas economias emergentes as pressões inflacionárias "se acentuaram". O crescimento econômico, de 6,1% em média este ano, comprado a apenas 2% nos desenvolvidos, conjugado a preços de alimentos em alta, faz com que a inflação cause preocupação generalizada.

Nos emergentes, a inflação provocou uma alta do custo de vida - modesta no Brasil, mas significativa na China e na Índia, na visão do BIS.

O BIS considera crucial o aumento dos juros se os bancos centrais quiserem preservar a credibilidade já conquistada na luta contra a inflação. E sobretudo agora, quando o alto nível das dívidas pública e privada é percebido como limitador da capacidade dos BCs de manter a estabilidade de preços.

No entanto, o BIS sugere um equilíbrio entre a necessidade de aperto monetário e as vulnerabilidades ainda ligadas a um setor bancário que segue fragilizado. Mas acha que, quando os bancos centrais começarem a elevar os juros, vão fazê-lo num ritmo mais rápido do que nas fases de aperto precedentes. A instituição diz que os bancos centrais devem estar prontos para acentuar e dar mais velocidade às suas políticas de arroxo monetário.

O banco central dos bancos centrais estima ainda que as perspectivas menos favoráveis para a alta de preços ao consumidor são provocadas também pelas tensões mais e mais marcadas nos mercados de trabalho nas economias emergentes.

Diz que a elevação do custo unitário da mão de obra em alguns grandes emergentes, como é o caso da China, ameaça a estabilidade de preços em escala planetária, em razão do papel que essas economias têm na cadeia de abastecimento.

A mensagem, na prática, é de que os emergentes estariam levando inflação para os desenvolvidos em estado calamitoso, na medida em que devem crescer mais de 6% este ano, comparado aos 3,1% para a média da economia mundial. (AM)