Título: Como explorar petróleo na bolsa
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2011, EU & Investimentos, p. D1

HRT, OGX e Queiroz Galvão mudam a cara do setor depois de anos de reinado absoluto da Petrobras. Diversificar é preciso, mas com cuidado.

Do Rio

Os exploradores das águas profundas e agitadas da bolsa já notaram que uma nova frota de empresas de petróleo, formada por HRT, OGX e Queiroz Galvão, chegou ao mercado depois de anos de reinado absoluto da Petrobras. Agora, mais duas estão prontas para zarpar: Perenco e PetroRecôncavo.

É uma boa notícia. Já não era sem tempo que o setor deixasse de ser monopólio também na bolsa. Diversificar é preciso.

A mudança é bem-vinda, mas também tende a confundir. Além de conhecer os fundamentos do setor, é hora de entender a dinâmica desses papéis na bolsa de valores. Antes de iniciar a prospecção, o navegador experiente já deve saber que a OGX e a HRT são empresas pré-operacionais, ou seja, ainda não produziram nenhum barril de petróleo - o que elas têm são áreas para exploração que, posteriormente, poderão se tornar campos produtores.

A OGX realizou a maior campanha exploratória do país desde a quebra do monopólio da Petrobras, em 1998. A empresa controlada pelo empresário Eike Batista descobriu vários reservatórios com óleo e gás, mas ainda não é possível saber quanto disso se transformará em resultado no balanço. Somente quando começar a produzir em fase de testes, o que está previsto para o segundo semestre, a OGX começará a ter receita com a venda de petróleo.A HRT, que já começou a perfurar seu segundo poço na Amazônia, não tem nenhuma descoberta no Brasil ou na Namíbia, país onde concentra 85% de seus ativos de exploração.

A Queiroz Galvão produz gás no campo de Manati, na Bahia. Esse gás garante uma receita fixa que é reajustada pelo IGP-M, já que o contrato de venda no mercado nacional não está atrelado ao preço do petróleo no mercado internacional.

Marcus Sequeira, analista do Deutsche Bank, explica que, no geral, ações como da HRT e OGX carregam um nível de incerteza maior que o da Petrobras porque são pré-operacionais. "O investidor que aceita um risco maior e também em contrapartida a possibilidade de ter um ganho acima da média pode se posicionar nesses papéis", afirma.

Para um analista de um grande banco, que prefere não ser identificado, quem está comprando Queiroz Galvão e HRT quer o ganho da exploração, em que é possível ter um alto retorno. No entanto, segundo essa fonte, seriam ações de alto risco por conta da incertezas desse tipo de operação. Exemplo: se a empresa fura um poço seco, a ação desaba e vai demorar um tempo para se recuperar. Marinheiros de primeira viagem em busca de segurança, alerta: fiquem longe dessas ações.

Emerson Leite, analista do Credit Suisse, ressalta que o setor de petróleo e gás tem muito potencial no Brasil e uma perspectiva de crescimento muito grande.

"Conceitualmente, tende a ser um bom negócio no longo prazo", afirma. Mas, justamente por ser um dos setores mais acompanhado por analistas e gestores de fundos de investimentos de grande e pequeno portes, é preciso alguma sofisticação para estar por dentro das nuances e não perder dinheiro. Por isso mesmo, Leite acha que as empresas de óleo e gás tendem a ser perigosas para quem busca resultados no curto prazo.

Mesmo no caso do investidor com perfil mais agressivo, o analista diz que o investidor precisa saber se tem uma vantagem competitiva. Como as informações são logo incorporadas ao preço dos ativos, ele pode não ter agilidade suficiente no curto prazo para comprar e vender, porque não terá a velocidade de processamento das informações. Já no longo prazo, o setor tem taxas de retorno atraentes, lembra.

Sem entrar mérito sobre a ação de cada empresa individualmente, o analista do Credit Suisse diz que o investidor pode se proteger comprando ações de empresas que tenham uma perspectiva bem fundamentada de crescimento dos lucros e, principalmente, administradores de qualidade. "Isso é fundamental, já que essa é uma indústria que tem muito risco de execução e requer qualificação do quadro de dirigentes das companhias."

Leite destaca que o investidor deve olhar para onde vai o preço do produto. Se acredita que tende cada vez mais energias alternativas vão ganhar espaço, o petróleo não é um bom setor para ele entrar. "O investidor tem que ter uma opinião sobre a direção, sobre o preço da commodity".

No geral, os papéis de companhias de petróleo vão acompanhar, em maior ou menor escala, o humor do mercado de petróleo, que é altamente instável. Questões geopolíticas no Oriente Médio e no norte da África podem influenciar os papéis mesmo de empresas pré-operacionais, assim como eventos macroeconômicos nos países que mais consomem energia, como os Estados Unidos e a China.

Sequeira, do Deutsche, diz que a principal diferença entre a OGX e a HRT é a diversificação geográfica dos ativos, que no caso da HRT se dividem entre Brasil e Namíbia, enquanto na OGX a grande concentração é no Brasil, apesar de a empresa ter um terço de sua área exploratória na Colômbia. "Em termos de recursos riscados [reservas potenciais], a HRT tem uma diversificação geográfica que pode ser positiva se as perspectivas se concretizarem, mas qualquer notícia negativa trará pressão muito forte para o papel", explica.

As empresas do setor no Brasil têm um portfólio pouco desenvolvido, com alguma coisa em produção, como é o caso, até agora, da Queiroz Galvão. Emerson Leite, do Credit Suisse, lembra que a Queiroz tem um ativo em produção que é uma âncora de geração de caixa, mas que tem muito do valor a ser gerado vindo do portfólio. Outras empresas, como a Petrobras, já tiveram uma exploração muito forte, mapearam oportunidade de produção, porém precisam agora entrar em uma fase de pesados investimentos.

"O investidor inicial nesse mercado precisa atentar para a qualidade do portfólio exploratório e para a perspectiva de aumento de recursos potenciais dessas companhias", diz Leite. Ou seja, é preciso acompanhar até o calendário de perfurações. Não é uma viagem para quem enjoa facilmente.