Título: Valdemar tem controle quase absoluto sobre sigla
Autor: Costa, Raymundo ; Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2011, Política, p. A9
De Brasília
O deputado federal e secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto (SP), é a figura mais forte e representativa do partido, sobre o qual detém controle quase absoluto. O feito decorre não só de sua longevidade como filiado, dirigente e deputado, mas de manobras no estatuto que lhe permitiram ampliar o número de integrantes na direção da sigla, nela colocando pessoas ligadas a ele e sem qualquer tradição eleitoral. O PR elegeu 41 deputados e 6 senadores.
Valdemar não reina sozinho, na medida em que outros pequenos grupos circulam dentro da legenda com relativa independência e autonomia em relação a ele.
O mais representativo é o do senador e um dos principais empresários do agronegócio do país, Blairo Maggi (MT), responsável pela indicação de Luiz Antonio Pagot como diretor-geral -agora afastado- do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Blairo e Pagot integravam o PPS, mas sua migração para o PR criou um importante polo da legenda ligada ao setor empresarial rural. Blairo levou consigo, por exemplo, o empresário Eduardo Moura, um dos maiores criadores de gado do Mato Grosso. Também carregou mais de 70 dos 141 prefeitos do Estado, além da cúpula de sua gestão quando governador. Na Câmara, dois deputados mato-grossenses são ligados a Blairo: Wellington Fagundes e Homero Pereira.
Sempre atuou, contudo, em diálogo com Valdemar, embora não seja uma relação de submissão. Já aos que ousaram enfrentar Valdemar foi dado tratamento de desertores. O deputado Sandro Mabel (GO), ao contrariá-lo e disputar a presidência da Câmara neste ano, foi a mais notável liderança do partido que o enfrentou. Com o controle do partido em Goiás, desde que migrou do PMDB ao PR, há oito anos, aumentou consideravelmente a presença da legenda na política regional e até mesmo nacional. Chegou a fazer um governador de Estado e um candidato que surpreendeu nas eleições estaduais de 2010, além de ampliar o número de prefeitos e vereadores. Não foi o suficiente para entrar em uma disputa judicial com o PR nacional e Valdemar para não ser expulso por desobediência.
Em Minas, concentra-se uma ala com tempo de carreira na política parlamentar, como o líder da Câmara, Lincoln Portela. Mas o Estado é muito forte no setor de Transportes: é mineiro o senador Clésio Andrade, presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que assumiu a vaga no Senado após a morte, neste ano, de Eliseu Resende, diretor do extinto Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais e ministro dos Transportes no governo do presidente João Figueiredo. Clésio trabalhou em 2010 para eleger seu sobrinho, Diego Andrade, deputado federal. Em seu site, Diego relata que "aos 19 anos, se tornou diretor no setor de transportes em uma empresa com mais de 600 funcionários". Outro deputado mineiro, Jaime Martins, também tem forte atuação na área.
Alfredo Nascimento, presidente até ontem licenciado do partido, nunca teve muita tradição na legenda, mas o fato de ter assumido o ministério ainda no segundo ano do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o partido ainda no governo do petista -e sob sua influência- tornou-o capaz de criar um grupo em torno de si. O mais eminente integrante é o deputado federal José Henrique Oliveira, um radialista do Amazonas eleito no ano passado.
Sobre o ex-governador do Rio e deputado federal Anthony Garotinho, presidente do PR-RJ, paira outro polo de poder na legenda. Segundo candidato mais votado do país em números absolutos, com 695 mil votos, Garotinho foi um dos principais responsáveis, devido ao quociente eleitoral, pela ampliação da bancada fluminense e, por consequência, da bancada do PR na Câmara. O Rio, hoje, tem a maior representação na Casa, com sete deputados, um a mais do que Minas.
Um senador e um ex-senador chegam a ter alguma voz, mas sem grande número de seguidores. Magno Malta (ES), reeleito à Casa em 2010, é a face popular-religiosa do PR. Pastor evangélico e integrante de uma banda gospel, ele é ouvido, mas atua apenas para si. Não fez sequer um deputado federal no ano passado. César Borges, ex-governador da Bahia, perdeu a reeleição para senador, mas preside o PR na Bahia e é seu principal interlocutor no Estado, o quarto colégio eleitoral do país.