Título: Planalto não autorizou medidas para conter valorização cambial
Autor: Safatle, Claudia ; Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2011, Finanças, p. C2
De Brasília
O Palácio do Planalto sabe que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua trabalhando em medidas para minimizar a apreciação do real frente ao dólar, mas ainda não autorizou qualquer iniciativa nessa direção. A Presidência da República também tem ciência de que não há, no instrumental da área econômica, uma providência capaz de mudar o curso da taxa de câmbio. " Até onde sabemos, as medidas do ministro Mantega são mais do mesmo", disse um assessor de Dilma Roussef.
A presidente está mais preocupada com a inflação do que com a taxa de câmbio, principalmente com as pressões sobre os preços no último trimestre deste ano. Nesse sentido, a apreciação da moeda é até bem vinda, lembrou a fonte.
Os movimentos do câmbio nos últimos dias não decorrem do excesso de ingresso de dólar no país. Nas duas últimas semanas, aliás, até mesmo o fluxo de moeda estrangeira decorrente das exportações (conta comercial) foi negativo.
Desde meados do mês passado, no entanto, a Ptax escorregou da máxima de R$ 1,6108, no dia 16, para R$ 1,5611 no dia 30, com desvalorização do dólar frente ao real de 3,1% em apenas nove pregões. Na avaliação do governo, isso estaria mais relacionado com especulação do mercado para induzir uma queda da Ptax, a taxa de câmbio divulgada pelo Banco Central. A apreciação do real ocorreu, portanto, mesmo em cenário de pouca liquidez de moeda estrangeira na economia brasileira. Nesse mesmo período o fluxo foi negativo, com saída de US$ 2,167 bilhões do país e desses, US$ 1,918 bilhão saiu pela conta financeira - que registra a movimentação de recursos para aplicações em títulos, bolsa e investimento estrangeiro direto (IED).
Até o início de abril, o país acumulou US$ 35 bilhões em ingresso líquido de moeda estrangeira. Desde então, o movimento se inverteu e junho foi o terceiro mes seguido de saídas líquidas de divisas pela conta financeira. O governo avalia que isso decorreu das várias medidas adotadas para este fim desde o início do ano. Além da elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que restringiu a aplicação em títulos domésticos, o BC também atuou para limitar a especulação no mercado futuro - com IOF sobre as margens de garantias na BM&FBovespa e recolhimento compulsório sobre as posições vendidas dos bancos no mercado à vista. Uma alternativa, na visão do Palácio do Planalto, seria apertar mais as restrições já impostas.
Para conter a especulação, o governo aposta também na nova metodologia de cálculo da Ptax, que deve reduzir as manipulações na formação da taxa todo fim de mês - quando é definida a taxa de referência para a liquidação dos contratos futuros na BM&FBovespa. A nova fórmula elimina a ponderação pelo volume e nos primeiros dias em vigor já reduziu o giro dos contratos no mercado interbancário.
Nas últimas duas semanas, o fluxo de dólares decorrente dos contratos de câmbio para exportação também foi para o terreno negativo, fazendo com que, pela primeira vez no ano, o fluxo total de dólares para o país fechasse o mês no vermelho.
O saldo da movimentação de divisas em junho foi negativo em US$ 2,556 bilhões, resultado da saída líquida de recursos pela conta financeira, de US$ 3,934 bilhões, compensado pela entrada líquida de US$ 1,378 bilhão pela conta comercial no acumulado do mês.
No ano, o fluxo total ainda está fortemente positivo, em US$ 39,029 bilhões, doze vezes maior que no mesmo período do ano passado (US$ 3,071 bilhões).