Título: Para acordo sair, hipermercados podem ter outro destino
Autor: Mattos, Adriana ; Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2011, EU &/S.A., p. D3

De São Paulo

Para criar a megavarejista Novo Pão de Açúcar (NPA), que uniria as operações do grupo Pão de Açúcar e do Carrefour, Abilio Diniz, principal acionista da empresa brasileira, precisa da aprovação do sócio francês Casino, comandado por Jean-Charles Naouri, que vem criticando firmemente a proposta. Para que as conversas evoluam, ofertas que agradem ao Casino estão sendo estudadas, conforme apurou o Valor com pessoas próximas à negociação.

Uma proposta que poderia ir para a mesa é a separação do negócio de hipermercados do Carrefour das outras operações, "já que Naouri diz que não gosta de hipermercados", diz uma fonte.

Nesse caso, segue o raciocínio, os hipermercados do Carrefour poderiam juntar-se aos hipermercados do Casino, criando uma operação separada. No Casino, o negócio de hipermercados representa 29% das vendas realizadas na França. No Carrefour, essa fatia é bem maior, de 62%.

Naouri tem dito - e não está sozinho nessa avaliação - que o modelo de hipermercados está ultrapassado com a mudança no perfil de consumo no mundo. Em várias partes do mundo, o consumidor tem preferido comprar em lojas menores.

Do lado brasileiro, uma fonte avalia que há espaço para lojas maiores e que os hipermercados do Carrefour localizados na Europa - alguns com 16 mil metros quadrados de área - poderiam ser transformados em minishopping centers.

O mix desse tipo de loja não abrigaria apenas alimentos, produtos de limpeza, eletrodomésticos e lojas de serviço, como farmácias e óticas. Uma parte importante dentro desse modelo de minishopping seria a venda de roupa e artigos para a casa que o consumidor, atualmente, costuma encontrar em lojas de produtos importados.

O Carrefour está tocando um programa de ¿ 1,5 bilhão para reformular seus hipermercados. Batizados de Carrefour Planet, as megalojas estão sendo dotadas de butiques de produtos orgânicos, de moda, beleza, congelados, artigos para casa e de lazer, além de serviços, como cabeleireiro, consultoras de maquiagem e até creche para crianças. Algumas lojas têm mostrado resultados, mas há dúvidas entre os analistas se esse programa será suficiente para que o Carrefour volte a mostrar vigor.

No primeiro trimestre, enquanto as vendas do Carrefour cresceram 3,9%, as do Casino deram um salto de 18,8% - em grande parte devido à consolidação da Casas Bahia nas contas do grupo Pão de Açúcar.

Segundo informações apuradas pelo Valor no mercado, a rede Dia, terceira maior varejista de descontos do mundo, também seria um ativo que poderia ajudar a atrair o interesse do Casino na criação do Novo Pão de Açúcar. No Brasil, o Dia tem 409 lojas, todas no Estado de São Paulo, mas há um plano agressivo de abrir 50 lojas por ano no Brasil. No mundo, o Dia registrava 6,37 mil lojas ao fim de 2010 e vendas totais de ¿ 9,6 bilhões.

Mesmo tendo ido para a bolsa espanhola, o Dia ainda poderia fazer parte de uma negociação com Naouri, já que a varejista de descontos ainda tem dentre seus acionistas o fundo Blue Capital, por exemplo, que é interlocutor do lado brasileiro nas negociações para a criação do NPA. Existe o receio, porém, que o Dia seja comprado, no ambiente da Bolsa de Madri, e acabe nas mãos de um concorrente internacional, como o grupo alemão Aldi, que ao lado da também alemã Lidl domina o negócio de varejo de descontos no mundo.

A resposta do Casino à proposta de criação do NPA deve ser dada em 2 de agosto, quando o conselho de administração da Wilkes, holding que controla o grupo Pão de Açúcar, reúne-se em São Paulo. (CM e AM)