Título: Mantega diz estar perdendo o sono por causa do câmbio
Autor: Martins, Arícia ; Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2011, Brasil, p. A4
De Paris
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem, em Paris, que vem "perdendo o sono nesse momento", mais pelo real valorizado do que pela inflação e admitiu a dificuldade para frear o fluxo excessivo de capitais que entram no país. "A inflação é preocupação permanente do governo, é questão de honra não deixarmos sob nenhuma circunstância ela se elevar. Já o câmbio tem administração à parte", afirmou o ministro.
"Vamos deixar de subir os juros por causa do cambio? Não, não vamos deixar", disse. "Se necessário for, o juro subirá quando o BC achar necessário. No futuro próximo, quando a inflação estiver debelada, a taxa de juros vai cair no Brasil."
A preocupação com o tamanho da perda de competitividade do setor industrial aumenta no governo. O ministro admite, como outros participantes de um seminário realizado ontem na capital francesa, que o Brasil precisa se acostumar com o real forte. ""O Brasil não pode fazer o raciocínio de quando era economia fraca - e a moeda também era fraca - e podia sofrer ataque especulativo. A economia brasileira mudou e o real se valorizou, em parte pelos fundamentos. Temos de evitar o excesso de valorização, porque tira nossa competitividade."
Ele reconheceu que o cenário é "muito desfavorável", por causa das políticas expansionistas dos países avançados, e voltou a atacar os EUÁ e a China. "A guerra das moedas continua, talvez fique mais intensa com a crise nos países avançados. Temos uma falta do mercado mundial, o mercado de manufaturados está deprimido. Todos disputam os mercados existentes e a guerra comercial se intensifica."
Mantega reiterou que vai adotar mais medidas de controle do fluxo, porque a valorização do real tende a continuar, mas admitiu que é uma briga sem fim. "Os mercados são muito criativos, fechamos a porta, eles entram por outra, estamos correndo atrás", afirmou. Para Mantega, o ideal seria uma recuperação mais rápida dos EUA e da Europa. Segundo ele, a economia brasileira não tem bolhas, a inflação está sob controle e os problemas estão nas economias desenvolvidas.
"Não é a economia brasileira que está superaquecida, são as economias avançadas que estão subaquecidas. É isso que temos que enfrentar, os emergentes estão é ajudando o mundo a ter crescimento razoável", afirmou o ministro. Segundo ele, o único setor um pouco mais aquecido é de mão de obra. "Mas é um problema bom, ruim é falta de emprego, como nos países ricos."
A expansão do crédito está em 15% este ano, disse Mantega. "Quando os juros sobem, como agora, aumenta um pouquinho a inadimplência. Mas não há bolha de crédito no Brasil, os bancos brasileiros estão muito sólidos, perto dos bancos internacionais."