Título: Pagot diz que ex-ministro controlava gastos
Autor: Zanatta, Mauro ; Veloso, Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2011, Política, p. A6

De Brasília

Com presença confirmada em duas audiências públicas no Senado e na Câmara na semana que vem, entre terça e quarta-feira, o diretor licenciado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, diz que está pronto para prestar todos os esclarecimentos aos parlamentares sobre a sua gestão à frente do órgão e, mais do que isso, vai provar que não tem nenhuma relação com as denúncias que envolvem o departamento do Ministério dos Transportes (MT).

Em entrevista ao Valor, Pagot comentou como funcionava o dia-a-dia operacional e financeira da autarquia durante sua gestão. Essa rotina deverá ser detalhada e usada como parte de sua defesa nas audiências públicas de que participará. O Dnit, segundo Pagot, detém um orçamento anual que é definido pelo Ministério dos Transportes. Uma vez que esse orçamento é definido, o órgão tem liberdade de atuação - dentro dos limites do que foi estabelecido para custeio e investimento - para fazer seus empenhos, atendendo às rubricas orçamentárias.

Embora não tivesse obrigação, Pagot afirmou que o Dnit prestava informações mensais ao gabinete do ex-ministro Alfredo Nascimento. "Nunca fizemos empenhos sem o consenso do Ministério dos Transportes. Apresentávamos a programação orçamentária todo mês, e o ministério aprovava a execução", disse. "Desde que entrei no Dnit foi essa a minha posição. Todas as ações do Dnit são encaminhadas para a consultoria de orçamento do ministério."

Essa prestação de contas, no entanto, não pareceu suficiente para o ex-ministro Alfredo Nascimento, que em março decidiu retirar do Dnit a condução dos projetos. Na portaria que cria o "Comitê de Acompanhamento de Gestão de Contratos, Obras e Serviços de Engenharia de Transportes", Nascimento alega que suas motivações para mudar as regras se apoiam na "necessidade de aprimorar a supervisão ministerial" das obras tocadas pelo Dnit.

Ao colocar o Dnit para escanteio, o ministério passou a controlar, inclusive, as operações das superintendências regionais da autarquia, tirando essa gestão das mãos de Pagot. "Acredito que, de certa forma, o que essa portaria fez foi regulamentar o que já era feito. Para nós, só coube obedecer."

Pagot evita falar em atritos gerados a partir da migração no controle das verbas do ministério, mas dentro do próprio PR essa decisão é vista como a origem da disputa de poder no partido. Desde que a crise foi detonada no fim de semana, após reportagem publicada pela "Veja", Pagot mostrou-se indignado com a decisão de seu afastamento. Soube que seria retirado do comando do Dnit pela imprensa, sem antes ter sido comunicado por Alfredo Nascimento.

Afilhado político do senador Blairo Maggi (PR-MT), Pagot comandava o Dnit desde 2007. Em recente entrevista ao Valor, Pagot afirmou que ficava indignado quando recebia convites de empreiteiras para participar de pescarias. "Nem de pescaria eu gosto. Por que não me convidam para visitar uma obra, ver se as coisas estão realmente sendo executadas?", disse, na ocasião.