Título: Valdemar voltou ao poder com recuperação da legenda
Autor: Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2011, Política, p. A7

De São Paulo

Foi na estruturação do PR que o deputado Valdemar Costa Neto (SP) recobrou sua influência no governo federal depois de sua renúncia ao mandato, em 2005, depois do escândalo do mensalão.

É ele quem define o comando da legenda nos Estados, já que o partido se estrutura em comissões provisórias, nomeadas pela cúpula. Por meio de alterações no estatuto do partido, o parlamentar ampliou o número de integrantes na direção, para acomodar seus aliados. Dos quatro vice-presidentes do PR, três são de São Paulo, ligados ao deputado. O tesoureiro também foi indicado por ele. O presidente nacional do partido, ex-ministro Alfredo Nascimento, teria "gratidão" a Valdemar, depois que o dirigente saldou dívida da campanha de Nascimento ao governo do Amazonas, em 2010.

O dirigente tem forte influência sobre os deputados federais, que a ele se vinculam para obter financiamento de suas campanhas e contam com sua intermediação junto ao governo federal para liberar emendas parlamentares. Na Câmara, o parlamentar faz a ponte entre o governo e a quinta maior bancada da Casa. Valdemar articulou um bloco com 64 deputados do PR com PRB, PTdoB, PHS, PRTB, PRP, PTC e PSL, aumentando sua influência no Executivo. Os senadores têm mais independência em relação ao dirigente. O PR tem 40 deputados e 6 senadores.

Com perfil de articulador de bastidor, o deputado tem uma atuação na Câmara bastante discreta. Em seu sexto mandato, participa apenas a comissão especial que trata da reforma política. Os arquivos recentes da Casa registram dois pronunciamentos no plenário, em 2010: um sobre sua posição em relação ao piso salarial para os servidores policiais e o outro uma homenagem póstuma a um ex-vereador de Poá (SP). Entre os projetos recentes apresentados, estão o de nomeação de uma rodovia e uma flexibilização às multas de trânsito, para aumentar de 20 para 40 pontos o limite para a suspensão do direito de dirigir do infrator, se ele for motorista profissional.

Como senhor das alianças articulou Minas Gerais, no ano passado, a derrota do senador Clésio Andrade do comando do diretório mineiro, para que a seção estadual se aliasse ao senador Aécio Neves (PSDB). Clésio resistia a essa aproximação.

Antes das denúncias de seu envolvimento na cobrança de pedágio nas obras dos Transportes, Valdemar planejava reforçar seu poder dentro do governo e do partido, sempre em aliança com o ex-ministro da Pasta, Alfredo Nascimento, que passou a ser a figura de maior exposição pública do PR depois do mensalão.

Na gestão Dilma, Valdemar azeitou sua relação com os principais interlocutores do governo, como o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci - que pediu demissão do cargo em junho, depois de divulgação de denúncias de enriquecimento ilícito. O secretário-geral do PR ganhou créditos no governo isolando no partido o deputado federal Sandro Mabel (GO), que se lançou à disputa pela presidência da Câmara contra o candidato governista e atual presidente Marco Maia (PT-RS)..

A denúncia da propina nos Transportes coincidiu com a entrega ao Supremo Tribunal Federal do parecer da Procuradoria Geral da República sobre o mensalão. No documento, Valdemar é acusado dos delitos de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. De acordo com o documento, o dirigente do PR recebeu R$ 8,88 milhões entre 2003 e 2004 para integrar a base governista no Congresso.

O relatório do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, diz que o deputado usou dois sistemas para receber os recursos. O primeiro foi a utilização de uma empresa "laranja", a Guaranhuns Empreendimentos, que, segundo o procurador, era "especializada em lavagem de dinheiro". Valdemar indicou a empresa para operar o esquema. A empresa recebia o dinheiro do PT, via o publicitário Marcos Valério, e repassava ao deputado. De acordo com o procurador-geral, Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares repassavam os recursos ao publicitário. O segundo sistema utilizado por Valdemar foi a lavagem de dinheiro obtido do Banco Rural, tendo como intermediário Jacinto Lamas, também réu no esquema do mensalão.