Título: Pequim não deverá ter posto de número dois do FMI
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2011, Internacional, p. A9

De Paris

A China não deverá conseguir o posto de número dois do Fundo Monetário Internacional (FMI), como parecia ser a ambição da segunda maior economia do mundo. O segundo cargo do FMI ficará livre no final de agosto, com a partida do americano John Lipsky. E a "presunção" nos círculos do fundo é de que os EUA continuarão a nomear o ocupante. A expectativa é de que poderá ser David Lipton, assessor especial da Casa Branca.

Pequim, porém, terá sua fatia. A francesa Christine Lagarde, que assumiu a direção-geral no começo do mês, sinalizou que poderá aumentar de três para quatro o número de diretores-adjuntos da entidade, para dar uma vaga a um representante da China, segundo o "New York Times". Mas fontes dizem que isso não está definido ainda, e em todo caso o "primeiro vice-diretor" fica mesmo com os americanos.

Indagado ontem em Paris sobre expectativas de mudanças para os emergentes, o diretor executivo do Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Junior, disse não acreditar que haverá maior alteração na distribuição de poder na administração do fundo no curto prazo, com a posse de Lagarde.

Paulo Nogueira observou que, até pela maneira como ela foi eleita para o cargo, que não fugiu do figurino tradicional de arranjo entre os desenvolvidos, não se deve esperar alteração de poder efetivo na entidade proximamente. Isso apesar da enorme expectativa gerada sobre fatias aos emergentes.

O único compromisso real de Lagarde com o Brasil, que a apoiou, por exemplo, foi de manter o processo de revisão das fórmulas utilizada pelo fundo, o que permitiria o aumento da participação países emergentes nas decisões da instituição. Além disso, ela prometeu aumentar o papel de vigilância do FMI e ao mesmo tempo de trazer diversidade para a área técnica, hoje controlada por pensamento conservador que tem causado sucessivos fiascos.

Durante o processo de escolha do sucessor de Dominique Strauss-Khan, a China acenava nos bastidores que queria o posto de número dois, enquanto publicamente cobrava para os emergentes maior representação "no topo da administração" do FMI, mas cuidadosamente sem falar da direção-geral.

Agora, se confirmada a nova diretoria-adjunta, o caminho parece aberto para Min Zhu, que ontem também estava na França. Na gestão de Strauss-Kahn, a China obteve a nomeação desse economista como assessor especial do diretor-geral. Ele já participa de todas as reuniões centrais do fundo. Os EUA ocupam a primeira vice-diretoria e Japão e Egito as outras duas.

Em seus primeiros dias no comando, Lagarde focou na crise da Grécia. Mas a expectativa é de que ela terá logo de se olhar também a outros periféricos da Europa, com enorme dívida pública e recessão.