Título: Base governista sinaliza apoio a Nascimento no Congresso
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2011, Política, p. A7

A base governista sinalizou ontem que o ministro dos Transportes e presidente licenciado do PR, Alfredo Nascimento, terá integral apoio dos aliados nos depoimentos que prestará no Senado e na Câmara dos Deputados na próxima semana. O mesmo tratamento privilegiado será dado ao presidente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, que encaminhou ofício ao Congresso colocando-se à disposição para prestar esclarecimentos quanto às denúncias de corrupção no ministério.

O acordo foi feito informalmente ontem durante o almoço semanal dos líderes, desta vez na residência do líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). Ali, foi consensual a manifestação de apoio e apreço a Nascimento, sob a justificativa de que ele sempre atendeu aos parlamentares. Também foi elogiada, inclusive pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) -presente ao encontro- a decisão do ministro de comparecer ao Congresso para prestar esclarecimentos.

A iniciativa partiu dele e foi consolidada pelo seu partido, que apresentou requerimentos de convite em quatro comissões da Câmara: Ciência e Tecnologia; Fiscalização Financeira e Controle; Viação e Transportes; e Trabalho. Todos devem ser votados hoje. Para demonstrar o apoio pleno, chegou-se a articular a ida de todos os líderes até o ministério para um desagravo, mas as votações da tarde impediram a reunião de se realizar.

"Alfredo sempre foi correto, sério e atencioso com a nossa bancada. Sempre tratou a todos com respeito e sempre atendeu nossos pleitos. Já levei lá governadores, prefeitos, deputados e sempre fomos muito bem tratados. Ele tem o nosso apoio", afirmou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).

O maior efeito dessa sinalização de apoio foi diminuir o apetite dos interessados diretamente na queda do ministro. Seus correligionários identificaram ontem movimentações no PMDB e no PT nesse sentido.

Entre os pemedebistas, a informação era de que o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) trabalhava reservadamente apoio a instauração da CPI que a oposição quer criar para apurar as denúncias. Braga é adversário político de Nascimento no Amazonas e atuou no início do ano para ser indicado ao Ministério dos Transportes, mas não conseguiu apoio no seu partido. Com a sua participação no novo grupo de senadores "independentes" do PMDB, essa possibilidade era tida ontem como nula. "Não há nenhuma movimentação nesse sentido", afirmou ao Valor o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Procurado, Braga não respondeu ao pedido de entrevista.

Outro identificado como interessado no cargo é o diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Caron, filiado ao PT do Rio Grande do Sul, um engenheiro civil com longa trajetória de serviços ao seu partido. Foi tesoureiro do PT em Santa Maria (RS) e vice-presidente do PT de Porto Alegre, além de ter exercido diversos cargos públicos nos governos petistas no Estado. Foi, por exemplo, diretor-geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) quando o governador era Olívio Dutra (PT), ocasião em que a presidente Dilma Rousseff era secretária estadual de Minas e Energia.

O PR, aliás, tem colocado muito da responsabilidade pela crise na presidente e na sua decisão de afastamento imediato dos envolvidos nas denúncias. Avaliam que, sem essa atitude, não haveria crise, uma vez que a reportagem que a deflagrou não apresenta, segundo a legenda, provas concretas de corrupção nem declarações que levem a esse entendimento. Comparam muito a reação que teve desta vez com aquela de quando foram acusados de irregularidades em reportagens recentes o ex-ministros petista Antonio Palocci (Casa Civil) e o atual ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia). Em ambos os casos, ao contrário de agora, a presidente tardou em tomar alguma atitude.

Isso facilitou o trabalho da oposição, que ontem pediu a Procuradoria-Geral da União que apure as denúncias. O documento foi assinado pelos senadores Álvaro Dias (PSDB-PR) e Demóstenes Torres (DEM-GO) e pede que a instauração de inquérito para apurar eventuais crimes de fraude em licitações, corrupção passiva, peculato e formação de quadrilha. Também apresentou no Senado requerimento de convocação de Nascimento, Pagot e na Comissão de Infraestrutura. À tarde, foi aprovado na comissão de Meio Ambiente, Fiscalização e Controle do Senado um convite para Nascimento, Pagot, o presidente afastado da Valec, José Francisco Neves, e dois assessores do ministro explicar as denúncias. Na Câmara, o PPS também solicitou à PGR que apure o caso.