Título: Indústria rechaça novo tributo, mas avalia que pacote está na direção correta
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2011, Brasil, p. A5

Lideranças empresariais elogiam a intenção do governo de reduzir impostos presente na nova política industrial, como a desoneração da folha de salários, mas rechaçam a ideia de se colocar outro tributo no lugar, para financiar perdas de recursos da Previdência. Há também quem veja timidez nas medidas, pedindo mais ousadia num momento em que o câmbio valorizado causa estragos na competitividade da industrial.Na edição de ontem, o Valor antecipou o teor do pacote de ajuda ao setor industrial, que poderá se chamar Brasil Maior. Entre as principais medidas, haverá novos incentivos fiscais para segmentos que passam por um esvaziamento da cadeia produtiva e a uma desoneração da folha de salários, de implementação gradual e, tudo indica, para todos os setores.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, diz que reduções de impostos são bem vindas e estão na direção correta, mas vê falta de ousadia por parte do governo. "Há uma timidez muito grande para tomar providências que, em tese, podem resultar em perda de receitas."

Barbato considera "relevante" a redução dos encargos salariais, mas diz que zerar a contribuição patronal em quatro anos é um prazo longo demais. Para ele, é fundamental que sejam adotadas medidas para diminuir custos da indústria, para compensar os prejuízos causados pelo real valorizado. "Permitiram uma valorização do câmbio que expôs a indústria de transformação de modo absurdo."

O líder empresarial ataca a ideia de recriar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) ou um aumento da alíquota da Cofins para compensar perdas de arrecadação da Previdência, que deve ser causada pela desoneração da folha de salários. "A indústria não suporta mais custos", diz ele, para quem, se houver aumento de impostos, não devem recair sobre a indústria.

O presidente do conselho consultivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Jorge Raimundo, elogia as medidas que representem redução de custos para a indústria brasileira, que hoje sofrem com impostos muito mais elevados que os de outros países emergentes. "Se quiser competir com países como China ou, Índia, a desoneração da folha de pagamentos é algo extremamente importante", afirma ele. Segundo Raimundo, enquanto há países em que os medicamentos têm carga tributária zero ou muito baixa, no Brasil ela supera 30%.

Para ele, o prazo de quatro anos para zerar a contribuição patronal sobre a folha de salários é razoável, porque é importante que a Previdência possa se reorganizar sem esses recursos. Raimundo não gosta, porém, da solução de se colocar um outro tributo no lugar. "Eu vejo essas propostas, como a de recriar a CPMF, com preocupação. Tirar imposto de um lado e colocar de outro não resolve." O diretor de operações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Abijaodi, também não gosta da ideia. "Empresário não vê com bons olhos aumentos de impostos", diz ele.

Abijaodi elogia as linhas gerais da nova política industrial. Diz que reduções de impostos, como as que possam desonerar exportações e o investimento, são bem vindas e necessárias. Aliviar o peso das contribuições sobre a folha de salários também crucial, afirma ele, para quem, hoje, a questão da "competitividade não está mais no chão da fábrica" - impostos muito altos, num cenário de câmbio valorizado, atrapalham a indústria brasileira, que precisa concorrer com outros países em condições mais próximas de igualdade.

Outro ponto que conta com o apoio dos líderes empresariais é o das compras governamentais. Raimundo e Abijaodi diz que elas são um mecanismo importante para a indústria neste momento. "As medidas estão na direção correta, mas é importante dizer que elas não vão mudar a situação do setor no curto prazo", resume Raimundo. O déficit comercial do complexo saúde, de US$ 10 bilhões, não vai cair de uma hora para outra

As matérias-primas para os genéricos, por exemplo, são compradas basicamente da China e da Índia, correspondendo a um gasto anual na casa de US$ 5 bilhões.