Título: Dilma faz terceiro elogio sucessivo a Lula em menos de uma semana
Autor: Taquari, Fernando ; Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2011, Política, p. A6

De São Paulo

Pela terceira vez em menos de uma semana, a presidente Dilma Rousseff aproveitou os eventos oficiais do governo para fazer uma série de elogios ao antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Na cerimônia de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2011/2012, promovida em Francisco Beltrão (PR), Dilma atribuiu ao ex-presidente os avanços na área. Ao utilizar o termo "herança bendita" para comentar as conquistas da política agropecuária nacional, a presidente tenta encerrar especulações de que estaria se afastando do seu padrinho político.A hipótese começou a ser considerada depois que Dilma ficou meses sem lembrar de Lula em seus discursos, além de ter promovido mudanças nos ministérios, cujas indicações tinham sido feitas pelo antecessor. No mês passado, a presidente corroborou com a tese ao enviar mensagem em site especial criado para comemorar os 80 anos de Fernando Henrique Cardoso. No texto, ela faz uma série de elogios ao ex-presidente, a quem imputa a responsabilidade pelo fim da inflação. A mensagem foi encarada como um gesto de distensão política, já que Lula costumava criticar a gestão tucana ao ressaltar em diversos momentos de seu governo que recebeu uma "herança maldita" do PSDB.

Já o termo herança bendita, utilizado pela presidente em determinados períodos no ano passado, já tinha sido empregado por Dilma na segunda-feira, durante entrega do Prêmio Anísio Teixeira. Na ocasião, a petista comentava os avanços nos últimos anos na área de educação. A iniciativa de acabar com os boatos, no entanto, teve início na inauguração do teleférico do Complexo do Alemão, no Rio, na sexta-feira da semana passada.

Lula, que deu início às obras no Alemão, foi um dos nomes mais lembrados no evento. Dilma iniciou o discurso dizendo que, na cerimônia, faltava uma pessoa: Lula. "Ele colocou não só recursos financeiros, mas o carinho, o amor, o respeito e a esperança de que o país pode ser diferente". Ontem, a petista declarou que ex-presidente foi o "grande defensor" da agricultura familiar, que tem ajudado a reduzir a desigualdade social no país.

"Desde 2003, quando pela primeira vez o presidente assumiu o governo, nós viemos dando passos e mais passos em direção a uma política e a um plano de safra que, cada vez mais, contemple os interesses dos agricultores familiares. Neste sentido, eu recebi do presidente Lula uma herança bendita, no que se refere a toda a política de desenvolvimento da agricultura familiar e da atividade agropecuária no Brasil", disse.

No evento, o governo se comprometeu com um pacote de medidas para o setor, como redução das taxas de juros para investimentos e o aumento do limite para financiamento. O programa prevê a concessão de créditos e subsídios de R$ 16 bilhões.

Durante a passagem pelo Paraná, Dilma concedeu entrevistas para rádios locais. Disse ficar triste quando coisas erradas acontecem no governo. Ao comentar que fica feliz com o neto Gabriel, que "quase destrói as costas de todos os que estão em volta", Dilma declarou que "tem dias que eu fico triste". Ao ser questionada sobre o motivo, respondeu: "Uai, quando acontece alguma coisa errada no governo".

"Todo mundo pode perceber que a gente, num governo, tem muitas dificuldades", disse a presidente, que enfrentou a saída de dois ministros (Antonio Palocci e Alfredo Nascimento) em apenas um mês no início de seu governo por denúncias de irregularidades.