Título: PF acha na Bolívia milhares de carros roubados no Brasil
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2011, Internacional, p. A9
De São Paulo
Milhares de carros roubados ou furtados no Brasil estão na lista de veículos sem documentos que o governo da Bolívia pretende legalizar. Os dados emergiram de um cruzamento feito pela Polícia Federal brasileira com base nos dados enviados pelas autoridades bolivianas. O caso vem gerando atrito entre os dois países.
O balanço, ainda preliminar, foi feito pela PF e já encontrou mais de 3.000 veículos roubados no Brasil e contrabandeados para a Bolívia. O dado final pode ser ainda maior e deve ser enviado nos próximos dias ao governo boliviano.
Uma lei assinada em junho abriu um processo para que milhares de carros que rodam sem documentação na Bolívia sejam regularizados. Para países vizinhos, a medida traz o risco de que sejam legalizados carros roubados no exterior.
Autoridades bolivianas receberam 128.059 pedidos de registro de veículos. Os pedidos foram feitos num site que o governo criou para ajudar no processo de legalização em que os proprietários deviam informar seus dados e caraterísticas dos veículos.
Para evitar que veículos roubados no exterior sejam regularizados, o governo boliviano vem consultando dados enviados por países vizinhos. Até sexta-feira, segundo a Aduana Nacional da Bolívia, apenas Argentina, Chile e Peru haviam enviado a La Paz listas de veículos roubados. "Sem esses dados, não temos como adivinhar se há carros roubados no Brasil a serem legalizados aqui", disse um funcionário da aduana.
O Valor apurou que a PF levantou junto ao Infoseg, o banco de dados da polícia brasileira sobre carros roubados, uma listagem de 2.408.558 carros que foram roubados desde 2000. Em seguida cruzou essa lista com os dados enviados por La Paz dos 128 mil veículos que estão na fila da legalização. Resultado: mais de 3.000 veículos que desapareceram das ruas brasileiras estavam para ser regularizados no país vizinho.
Muitos desses carros, segundo a PF, entram clandestinamente por acessos vicinais da Bolívia ou mesmo pelas rodovias para serem vendidos num mercado ilegal que prospera, principalmente no interior do país. Outros tantos são usados como moeda para o pagamento de armas e de cocaína - em esquemas que algumas vezes envolvem contrabandistas e traficantes brasileiros operando na Bolívia.
Passado o período de inscrição, o governo começou a legalizar os carros no dia 4, processo segue até 7 de novembro.
"Nossa previsão é que essa lei poderá aumentar a prática de roubos e furtos de veículos no Brasil", disse na semana o delegado Áderson Vieira Leite, superintendente interino da PF no Mato Grosso.
A legalização é uma velha demanda de setores populares - pequenos comerciantes, pequenos sitiantes, donos de lotações improvisadas. Pela lei, veículos identificados como fruto de roubo ou furto não serão regularizados.
Aplaudido por boa parte de seu eleitorado, Morales comprou briga com governos vizinhos. O Brasil pediu logo uma reunião de alto nível com a Bolívia e há duas semanas o vice-presidente, Álvaro García Linera, recebeu representantes do governo. Autoridades lamentaram ter de resolver a questão carro por carro; preferiam um acordo que evitasse as legalizações.