Título: Especulação explica forte queda da cotação em junho, diz Fazenda
Autor: Gilles, Chris
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2011, Finanças, p. B12

Quem entrou com dólares no mercado brasileiro no meio de junho e sacou no último dia do mês, na semana passada, ganhou 3,1% apenas com a variação cambial do período. Em quinze dias, o dólar passou de R$ 1,61 para R$ 1,56, antes de deslizar mais um pouco, nos primeiros dias de julho, quando chegou a beirar R$ 1,54.

A avaliação do Ministério da Fazenda é que, a partir da segunda quinzena de junho, a valorização do real deixou de ser impulsionada pela expansão monetária promovida pelo governo americano desde o ano passado para reanimar sua economia para ser determinada pela pressão do mercado em torno do vencimento de contratos futuros de câmbio. Carregando grandes posições "vendidas" - que apostam na queda do dólar no mercado à vista -, o mercado teria interesse em derrubar a taxa Ptax do último dia útil do mês, que seria utilizada como referência para os contratos de derivativos cambiais fechados na BM&FBovespa.

Entre o fim de junho, na semana passada, e ontem, a posição "vendida" de hedge funds no mercado futuro era de US$ 23,1 bilhões. Na outra ponta, em contratos que acumulam valor semelhante, estão os bancos, que carregam posições "compradas". Isso significa que os hedge funds ganham quando há valorização do real, e os bancos, o contrário. A simples queda de 3,1% do dólar, entre os dias 17 e 30 de junho, garantiu aos que estavam "vendidos" um ganho que um título do tesouro americano (Treasuries) com prazo de dez anos de vencimento demoraria quase 24 meses para igualar.É clara a percepção, no Ministério da Fazenda, de que a valorização recente do real, que voltou aos patamares mais baixos desde janeiro de 1999 (quando deixou de ter seu preço fixo ao dólar, como era sustentado desde o lançamento do Plano Real, em julho de 1994), deve-se à pressão dos hedge funds, que esperam saldar sua posição "vendida" com o máximo de ganho.

"O câmbio oscilou entre R$ 1,55 e R$ 1,56, mas deve [a valorização] recuar um pouquinho nos próximos dias", diz uma fonte graduada. Acredita-se que as mudanças instituídas pelo Banco Central no cálculo da Ptax, que começaram a valer este mês, já servirão para suavizar a pressão especulativa sobre o câmbio. Antes formada após o cálculo da média ponderada pelo volume das operações no interbancário, a Ptax agora é calculada pela média aritmética de quatro consultas feitas pelo BC com os dealers do mercado. Por isso, as operações no interbancário despencaram nos últimos dias, oscilando em torno de US$ 1,2 bilhões.

Em Londres, onde esteve ontem para um seminário sobre o Brasil promovido pelo BTG, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que novas medidas para contenção da valorização do câmbio não estão descartadas. Mantega, no entanto, não foi além. Oficialmente, a Fazenda afirmou que cabe ao ministro o anúncio de qualquer medida. "Não é mistério que a valorização do câmbio preocupa o governo e mobiliza a equipe econômica", disse uma fonte graduada, para quem, no entanto, o patamar "excessivamente valorizado" do real, registrado nos últimos dias, é "momentâneo".