Título: Grupo contrata lobista para ganhar influência
Autor: Góes, Francisco; Rosa, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2011, EU& S.A., p. D5

O Casino tenta recuperar o tempo perdido no campo político e começa a preparar o terreno nessa esfera para que consiga barrar - ou fechar o melhor acordo possível - nas negociações de fusão do grupo Pão de Açúcar com o Carrefour.

A companhia contratou há cerca de 20 dias a empresa Flecha de Lima Relações Institucionais, de Luiz Antonio Flecha de Lima, filho do ex-embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima. Eles devem ajudar o Casino a se articular nas discussões com líderes do governo sobre o caso. "Vamos fazer o trabalho de relação governamental, analisar cenários e tentar entender o posicionamento dos interlocutores nesse caso", conta Fecha de Lima.

Na avaliação de fontes próximas ao Casino, iniciativas em torno de um melhor trânsito na cena política brasileira acabaram ficando em segundo plano nas estratégias da rede no país nos últimos anos. Quem fazia isso, e com propriedade, era o sócio Abilio Diniz, hoje foco de duras críticas da rede francesa, que o acusa de negociar uma fusão sem autorização.

Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o "Conselhão", e candidato do governo petista a ocupar a função de ministro, Diniz representava os interesses dos sócios franceses, que se mantinham à distância desses assuntos.

Nos últimos anos, desde a associação entre Casino e grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz também tomava a frente das decisões estratégicas do grupo e basicamente comunicava o Casino dos passos da empresa. Na união com a Casas Bahia, assim como na compra da cadeia varejista Ponto Frio, Abilio informava o parceiro dos passos que estavam sendo tomados, com rara interferência dos franceses no processo.

A maior preocupação do Casino, em relação a essas decisões estratégicas, estava no nível de endividamento do grupo Pão de Açúcar. O Casino temia que um aumento no nível de alavancagem da empresa no país pudesse pressionar os resultados da companhia francesa. É que o Casino já registra patamar de endividamento considerado alto pelos analistas setoriais.

O jogo mudou e o Casino entende que precisa fortalecer a sua atuação nesse terreno - e acompanhar as movimentações de Diniz no governo - se quiser evitar surpresas no embate político.

A Flecha de Lima tem mantido contato frequente com o comando do Casino, que já contratou José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, para a disputa no tribunal arbitral da Câmara de Comércio Internacional (IIC, na sigla em inglês) que decidirá a possível fusão da empresa com a rede Carrefour. Já Abilio Diniz contratou Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça do governo Lula, para a disputa arbitral.

A necessidade de ter que buscar melhor retaguarda na esfera política não é algo que está no DNA da rede francesa. O Casino é uma rede extremamente discreta em relação a esse aspecto. A cultura da organização é adotar uma postura de discrição quando decisões de negócios passam pela necessidade de se articular ao lado de governos e partidos políticos.

Em parte, o esforço das empresas em se armar com especialistas e negociadores revela, na avaliação de interlocutores das duas partes, a possibilidade de que as discussões se estendam ao longo do ano. E há sinais mais claros que os embates podem envolver pequenos detalhes.

O Casino tem se movimentado de forma constante para deixar clara a sua insatisfação com a postura adotada por Abilio Diniz de negociar a fusão sem o sinal verde da rede francesa. Um exemplo disso está na forma como tem se posicionado em relação à disputa arbitral na Câmara de Comércio Internacional. O Casino já entrou com dois pedidos de arbitragem contra Diniz - e pode entrar com novos pedidos.

A cada novo fato que envolver algum desrespeito (na visão do grupo francês) ao acordo de acionistas de 2006, assinado entre a rede francesa e Diniz, o Casino deve entrar com representação na Câmara Arbitral. É uma forma de "marcar território" e mostrar que não deixará passar em branco nenhuma movimentação do sócio.