Título: Portucel suspende projeto de R$ 4,8 bilhões em MS
Autor: Fontes, Stella
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2011, Empresas/Indústria, p. B8

De São Paulo

A Portucel Soporcel, um dos maiores fabricantes de papel e celulose da Europa, congelou projeto estimado em R$ 4,8 bilhões que incluí uma fábrica da fibra, geração de energia e plantio de cerca de 200 mil hectares de florestas em Mato Grosso do Sul. A decisão, segundo os portugueses, se deve ao parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que limitou compra de terras no país por estrangeiros.

Os obstáculos impostos pelo parecer, no entanto, não encerraram os planos da Portucel para o Brasil. Em nota enviada ao Valor, o grupo diz que "está empenhado em desenvolver os esforços necessários no sentido de ver ultrapassadas estas dificuldades." Conforme uma fonte da indústria, os portugueses estariam avaliando alternativas à compra direta de terras e já teriam avançado nessa questão.

Além da Portucel, que chegou a assinar um protocolo de intenções com o governo de Mato Grosso do Sul, outros dois grupos estrangeiros teriam percorrido áreas no Estado e no vizinho Mato Grosso, de olho em terras disponíveis para o plantio de eucalipto. Umas das companhias, segundo informações que circulam na indústria, seria a chilena Arauco, que tem operações no país na área de painéis de madeira. A empresa foi procurada, porém não deu retorno aos pedidos de entrevista.

O governo de Mato Grosso do Sul diz que há espaço para mais duas ou três empresas do setor se instalarem no Estado. Até agora, contudo, o único contato oficial foi feito pela Portucel. "Não temos nenhuma informação concreta sobre outros grupos. Mas sabemos que há interesse e que alguns fundos já estiveram por aqui", conta a secretária de Desenvolvimento Agrário, Produção, Indústria, Comércio e Turismo do Estado, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias.

De acordo com a secretária, um estudo de zoneamento econômico e ecológico e de área apropriada indicou que o Estado poderia suportar até outros três projetos na área florestal. Hoje, a Fibria e a International Paper (IP) do Brasil têm fábricas no município de Três Lagoas e há pelo menos dois projetos em curso: um da Fibria, que vai mais que duplicar a produção de celulose em sua unidade, e outro da Eldorado Celulose e Papel, que é controlada pela holding J&F, do grupo JBS-Friboi, e está erguendo sua primeira unidade industrial.

Mato Grosso do Sul tem disponíveis, atualmente, 1,5 milhão de hectares aptos ao setor florestal. A Portucel, cujo projeto prevê 200 mil hectares de área plantada, já teria escolhido a região dos municípios de Santa Rita do Pardo e Bataguassu. Mas chegou a engatar um namoro com a cidade de Três Lagoas, que segue atraindo novos investidores do setor, e andou por terras no Mato Grosso. "Há forte migração do gado para o eucalipto, o que tem aberto uma área importante para a indústria de base florestal", afirma a prefeita de Três Lagoas, Márcia Moura (PMDB).

Hoje, dos 400 mil hectares de plantio de eucalipto no Estado, 250 mil hectares estão localizados no município. Além de área, a agilidade na concessão de licenças e questões logísticas atraíram o interesse das produtoras de celulose e papel. Nesta semana, começa a funcionar o terminal de passageiros do aeroporto local e, no futuro, a cidade contará com porto seco.

A secretária estadual reconhece que o parecer da AGU, que mobilizou entidades representativas da indústria de base florestal e represou entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões em investimentos de companhias ou fundos estrangeiros, reduziu o ritmo de consultas. "As conversas com a Portucel começaram há mais de dois anos", lembra Tereza Cristina. "Agora, todos esperam decisão do governo brasileiro."