Título: Para analistas, índice da Fipe aponta para inflação mais alta em julho
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2011, Brasil, p. A2

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) na cidade de São Paulo, divulgado ontem, reforçou o cenário de que a inflação voltará a aumentar em julho, influenciada pelo fim das pressões baixistas dos itens alimentos e transportes, concordam analistas consultados pelo Valor. O indicador calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) desacelerou de 0,31% em maio para 0,01% em junho, após ter registrado deflação de 0,05% na terceira quadrissemana do mês passado.Na atual leitura, os principais responsáveis pelo recuo mensal do índice foram, novamente, os grupos transportes, com queda de 0,9%, e alimentação, que registrou retração de 0,58%. Na divulgação anterior (terceira quadrissemana), as variações negativas desses itens, no entanto, foram mais acentuadas, de 1,07% e 0,67%, respectivamente. Para os economistas ouvidos, os dois grupos ditam a atual dinâmica inflacionária, já que os demais se mantêm estáveis.

"Os itens transportes e alimentos já não vão mais cair tanto", diz Antônio Comune, coordenador do IPC da Fipe. Tanto que ele projeta que a cidade de São Paulo deve encerrar o mês com elevação de 0,25% no índice.

Segundo o coordenador, a gasolina, sozinha, contribuiu com 0,11 ponto percentual negativo para o índice geral. "Isso anula praticamente 459 produtos que compõem o IPC, que somados deram 0,12 ponto percentual positivo". Comune ressalta, contudo, que a relação de preços entre álcool e gasolina atingiu "perigosos" 68%, contra 65,7% na terceira prévia de junho. "Se [a relação] chegar a 70%, não é mais vantagem usar o álcool. Isso já acende uma luz amarela para o próximo fechamento do índice."

O economista da Fipe também prevê que neste mês os alimentos in natura não terão queda tão expressiva e o efeito de entrada da safra não será mais tão forte, mas ainda vê julho como um mês "calmo" para a inflação. "Tudo isso está dentro do esperado".

Para os meses seguintes, porém, Comune faz um alerta para os dissídios de algumas categorias, e o consequente perigo da indexação salarial. "Se as categorias fortes conseguem reajustes altos, podem contratar serviços que, estando em falta, também reajustam preços. É a espiral da inflação."

Mesmo com essas pressões previstas, Comune revisou ligeiramente para baixo sua projeção para o IPC-Fipe fechado do ano, de um intervalo entre 6% e 6,5% para uma aceleração compreendida entre 6% e 6,4%. "Se julho vier abaixo dos 0,25% posso rever essa previsão para baixo, mas é bom esperar mais um mês."

O economista-chefe da RC Consultores, Fábio Silveira, acredita que haverá um processo de reversão do recuo nos indicadores dentro de 15 a 30 dias. "Não estou dizendo que será um movimento de alta expressiva, mas se hoje estamos com patamares muito baixos, talvez comecemos a ter taxas mensais um pouco mais elevadas."

Silveira explica que os índices de preços ao consumidor como o calculado pela Fipe ainda estão captando a queda de preços agrícolas, entre eles o do etanol, que ocorreu nos mercados interno e internacional até maio, movimento que já se esgotou. "Entre o que ocorre no atacado, nas prateleiras dos supermercados e nos institutos de pesquisa sempre há defasagem."

O analista acredita na possibilidade de os combustíveis voltarem a registrar taxas positivas neste mês. Na atual leitura do IPC-Fipe, o álcool combustível teve variação negativa de 10,38% e a gasolina, de 3,98%, principais responsáveis pela deflação de 0,9% no item transportes.

Para Thiago Curado, da Tendências Consultoria, os grupos alimentação e transportes também serão novamente os itens que mais deverão contribuir para o recuo no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, a ser divulgado pelo IBGE na quinta-feira. Sua previsão é de avanço de 0,09% para o indicador, próximo à média das projeções do mercado, de 0,05%. Silveira, da RC, estima alta entre 0,3% e 0,35%.