Título: Dívida de aposentado cai 30%
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Fonte: Correio Braziliense, 24/08/2010, Economia, p. 30

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Empréstimos consignados entre janeiro e julho deste ano somam R$ 15,9 bilhões contra R$ 22,7 bilhões de igual período de 2009

Os aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dão sinais cada vez mais fortes de esgotamento na capacidade de endividamento. Dados divulgados ontem pelo Ministério da Previdência mostram que, de janeiro a julho deste ano, o total de empréstimos consignados (com desconto em folha) somou RS$ 15,9 bilhões, volume 29,94% menor do que computado em igual período de 2009 (R$ 22,7 bilhões).

Esses números não nos surpreendem. Desde o início do ano, temos percebido que os beneficiários do INSS já usaram uma boa parcela do limite máximo de 30% dos rendimentos que podem ser comprometidos com consignados, disse um técnico do INSS. Mas não há nada com o que se preocupar. Trata-se de um movimento esperado, natural, acrescentou.

Para o Banco Central, o fôlego menor dos aposentados e pensionista em tomar dívidas veio em boa hora, pois significará uma pressão menor sobre o consumo e, claro, sobre a inflação. Pelos levantamentos da instituição, o grosso do dinheiro oriundo dos empréstimos(1) é gasto com necessidades básicas, sustentando a remarcação de preços. O ritmo de crescimento do consignado visto no início do ano não era sustentável. O ideal é que as liberações de financiamento avancem, mas sem um caráter explosivo, que pode levar à inadimplência, afirmou um técnico do BC.

Em julho, segundo a Previdência, os beneficiários do INSS tomaram dívidas de R$ 2,3 bilhões, quantia 2,7% abaixo da verificada no mesmo mês de 2009. Foram realizadas 809.211 operações, um recuo de 16,45% frente a julho do ano passado. O consignado está caindo, principalmente, no cartão de crédito, assinalou o técnico do INSS. Segundo ele, no mês passado, foram apenas 9.632 operações nessa em tal modalidade, quantidade 52,84% inferior à de julho de 2009. Na mesma comparação, as liberações feitas pelos bancos somaram R$ 5 milhões, com queda de 71,98%.

O levantamento da Previdência indica que, na média, os segurados que recebem até um salário mínimo por mês contrataram R$ 2.151,83 em empréstimos pessoais. Já aqueles com renda entre um e três salários assumiram débitos médios de R$ 2.914,31. Na faixa dos aposentados e pensionistas que recebem acima de três salários mínimos, os contratos ficaram, também na média, em R$ 5.040,75.

Em julho, pouco mais da metade dos empréstimos (52,8%) foi fechada na Região Sudeste: R$ 1,17 bilhão, por meio de 395.174 contratos. No Nordeste, foram 202.839 operações, totalizando R$ 538,9 milhões.

1 - Risco próximo de zero O crédito consignado é considerado um grande filão pelos bancos, pois o risco de perda é próximo de zero. De início, essas operações foram comandadas pelas instituições privadas de menor porte, mas, aos poucos, os bancos públicos, mais precisamente o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, acabaram dominando os empréstimos. No geral, as taxas variam em torno de 2% ao mês.

Recadastramento facilitado

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) vai dispensar da prova de vida recadastramento presencial dados pessoais presencial os cerca de 5,7 milhões de aposentados e pensionistas que recebem os benefícios pelo Bradesco. O acordo ainda não foi formalizado oficialmente, mas o Ministério da Previdência deu sinais de que não irá se opor à proposta, que deverá vigorar a partir de dezembro. A mudança prevê que o banco enviará à autarquia um arquivo com a fotografia da palma da mão de cada aposentado cadastrado obtida por senha biométrica nas máquinas de autoatendimento.

O sistema reconhece o cliente por meio da leitura feita por um scanner a cada vez que uma operação é concluída no terminal de autoatendimento. De acordo com o Bradesco, o sistema de biometria está instalado em todas as suas agências e só depende de ajustes finais em relação ao modo como as informações serão repassadas ao INSS. Para ser dispensados da prova de vida, os clientes da instituição financeira devem fazer o cadastro para uso da senha biométrica.

Comodidade Segundo o diretor da área de setor público do Bradesco, Renan Mascarenhas, até o momento, cerca de dois milhões de clientes já se cadastraram para usar os serviços de autoatendimento por meio da leitura da palma da mão. O sistema é muito simples e tem como objetivo oferecer maior comodidade aos nossos clientes, destacou Mascarenhas. A prova de vida é obrigatória para todos os beneficiários e pensionistas do INSS e deve ser feita anualmente. (GHB)

Impasse com peritos

O ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, quer acabar com a greve dos médicos peritos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em até 15 dias. De alguma maneira, temos que resolver em dez, 15 dias no máximo, mas não tem data, declarou ontem. Em pouco mais de dois meses de paralisação, o número de exames atrasados é de aproximadamente 400 mil. Diante do impasse nas negociações com a Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP), o ministro recorreu à Federação Nacional dos Médicos (Fenam) para mediar o diálogo com a categoria, porém, a medida causou manifestos generalizados.

A ANMP convocou os filiados a se absterem de qualquer negociação e convocou uma assembleia para a próxima quinta-feira. De acordo com a associação, antes da interferência da Fenam, as negociações com o governo estavam avançando, tanto que as propostas foram aceitas parcialmente, e uma contraproposta foi encaminhada para o Ministério da Previdência. As principais divergências se referem à redução da jornada de trabalho para seis horas diárias sem redução dos salários e ao reconhecimento da atividade do perito enquanto ato médico.

A Fenam se responsabilizou por levar as propostas do governo para assembleias dos sindicatos nos estados, mas a ANMP promete boicotar as propostas. Uma assembleia nacional para 5,5 mil médicos (filiados da associação) que tem 50 pessoas não é representativa. Não teve uma assembleia no local de trabalho, não teve em estado. Isso não é representação, criticou Gabas.